Não colocaria a questão apenas ao nível da produção. Isso levar-nos-ia a
muitas considerações acerca da origem, das qualidades e das motivações dos
diferentes autores portugueses, pelo menos a partir dos meados do século XIX.
Preocupa-me o ambiente sociocultural nas diferentes regiões do nosso território
- os hábitos de consumo, as reais ofertas e, sobretudo, a falta de qualquer
coisa que arrede esta desertificação voraz. Aqui não se trata de distâncias em
alcatrão. Lisboa ficará muito longe de Loures, Odivelas e Amadora, muito mais
perto do Porto e de Almada e até de Viseu... Acontece que num concelho de 100
mil habitantes como Viseu não há oportunidades - havia umas livrarias engraçadas
e uns grupos de trabalho interessantes, mas fecham por questões económicas.
Temos o Teatro Viriato aflito com falta de verbas e a mania de resgatar
princípios gastos ligados a uma igreja teimosa e salazarenta, porém há muita
gente com vontade de fazer coisas boas e interessantes. Nos arredores de Lisboa
(não a margem esquerda) é um deserto - milhares de convencidinhos metidos nas
casas hipotecadas e estupidificados que nem portas...