segunda-feira, 2 de novembro de 2015
NATO ATACADA NO SISTEMA NERVOSO
Depois de ter afirmado pelo menos 16 vezes que jamais enviaria tropas para o terreno na Síria, o presidente dos Estados Unidos decidiu remeter um grupo de operações especiais para o norte deste país. Pouco tempo antes, a mesma ordenança do complexo militar e industrial transnacional dera outro dito por não dito ao anunciar que afinal as tropas da NATO vão continuar a ocupar o Afeganistão. A explicação foi a mesma para ambos os casos, também escutada da mesma boca não 16 mas algumas centenas de vezes: ajudar os “moderados” contra os terroristas.
Especula-se muito sobre o que estará por detrás destas mentiras da Casa Branca, também apresentadas como “mudanças de opinião” ou, de acordo com os porta-vozes do presidente, decisões que em nada violam os compromissos anteriores, uma vez que se trata de tropas que não irão entrar em combate.
Deixemos as especulações para os especuladores – e eles não faltam usando mil e uma línguas – e vamos a alguns factos no terreno, nos ares, ou até no ciberespaço, para sermos abrangentes.
Os agentes de “operações especiais” dos Estados Unidos – digamos também da NATO, sem receio de cometer qualquer imprecisão – irão para o Norte da Síria, prevendo-se que possam desenvolver acções transfronteiriças no que resta do Iraque, havendo consultas com o governo de Bagdade sobre essa possibilidade.
No Norte da Síria, a parceria expansionista formada pelos Estados Unidos e Israel, em colaboração com o regime fundamentalista turco, está a criar um “Estado Curdo” em território árabe, a exemplo do que fez através da invenção do “Sudão do Sul”, com os excelentes resultados humanitários à vista de todos. A amputação do território sírio pelo norte é um velho objectivo de Israel – por questões “militares e de segurança”, como sempre – e está em marcha através da colonização curda, a partir do Iraque e da Turquia, de um território que excede em muito o da minoria de curdos na Síria. A violência contra os não-curdos já começou, tendo entre as vítimas os cristãos assírios, mas presume-se que a chegada dos tropas especiais da NATO não seja para a evitar, mas sim para reforçar a partição da Síria com carácter de urgência, no âmbito da bem conhecida política de factos consumados.
No entanto, recorrendo a um teórico benefício da dúvida, poderá admitir-se que o lançamento de tropas no terreno tenha como objectivo reforçar o suposto combate norte-americano contra o terrorismo do Estado Islâmico, ou Daesh, ou ISIS. Será? O que acrescentará um grupo de operações especiais a um esforço militar tão empenhado da NATO que em mais de um ano deixou incólume a estrutura terrorista? Sem tropas no terreno, em pouco mais de um mês e em 1400 saídas, as forças russas destruíram 1600 alvos dos terroristas islâmicos, entre os quais 249 postos de comando, 51 campos de treino, 131 depósitos de munições e combustíveis, 768 bases terrestres, além de terem eliminado 28 altos quatros mercenários. A diferença das eficácias anti terroristas é esmagadora.
Outra pista, esta de grande impacto na relação mundial de forças, poderá também explicar as botas norte-americanas no teatro de guerra sírio. Numa operação que deixou o Pentágono e os gendarmes da NATO estupefactos, a Rússia cegou e ensurdeceu as comunicações militares norte-americanas e terroristas num raio de 300 quilómetros a partir de um ponto a norte da cidade síria de Latáquia, através de um sistema de interferências que neutralizou as comunicações entre satélites, aviões, drones, bases militares – incluindo a de Incirlik, na Turquia, usada pela NATO – e esquadrões de blindados. Um golpe em cheio no sistema nervoso operacional atlantista. Dando agora uma expressão muito mais vasta à neutralização do destroyer USS Donald Cook, então em missão no Mar Negro no Outono de 2014, as interferências russas nas comunicações militares dos terroristas e seus patrões da NATO na Síria permitiram a Damasco reconquistar vilas e aldeias numa área de 300 quilómetros quadrados e protegeram as recentes incursões de aviões russos na Turquia, onde foram identificar os campos de treino de grupos terroristas, Estado Islâmico incluído. Percebe-se agora melhor a irritação de Ancara e Washington com essas operações.
Somado ao êxito dos disparos de 26 novos mísseis de tipo cruzeiro russos a partir do Mar Cáspio, com 100% dos alvos atingidos, o dispositivo de interferência nas comunicações accionado por Moscovo, capaz de paralisar um sofisticado exército desactivando-lhe o sistema nervoso, coloca novos dados nos mapas das guerras modernas, não apenas na Síria mas em termos globais. A NATO deixou de ser dona e senhora nos conflitos convencionais, e não apenas porque os seus tanques se atascam pateticamente em manobras intimidatórias nas areias das praias do Alentejo.
Posto isto, as botas americanas no teatro sírio valem o que valem em defesa do terrorismo, porque não se crê irem servir a legitimidade de Damasco. Daí que, em simultâneo, os Estados Unidos se vejam obrigados a apoiar a reactivação das negociações diplomáticas de Viena sobre a Síria, a desenvolver num quadro de respeito pelas resoluções da ONU sobre o Médio Oriente e não já, como pretendiam Washington e os aliados da União Europeia, sobre “a partida imediata de Assad”.
O Médio Oriente continua em convulsão, mas existem dados novos a induzir que as mudanças não se processam em sentido único, e a proporcionar oportunidades alargadas às vias diplomáticas. A relação de forças internacional altera-se.
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sábado, 31 de outubro de 2015
A CHOLDRA
Portugal continua a esbracejar numa esterqueira. A choldra estrangeirada e submissa, que despreza as pessoas e se considera proprietária do poder, está viva e actuante cozinhando novo golpe para travar as ameaças latentes ao seu autoritarismo.
Olhe-se o chefe do Estado, um agente dos mercados financeiros internacionais usurpando um cargo de soberania republicana e popular, apadrinhando o quebra-cabeças de recadinhos e ameaças entre Bruxelas e Lisboa para que o regime de austeridade, sistema único adoptado pelo terrorismo neoliberal, se mantenha como se nada tivesse acontecido, isto é, pretendendo reduzir os resultados eleitorais a pó.
Um chefe do Estado que mexe cordelinhos estratégicos da Nação há mais de 30 anos, como padrinho de uma facção política herdeira da mentalidade salazarenta e que pôs o que restava do 25 de Abril sob os rolos compressores dos mercados manobradores daquilo a que chamam União Europeia, desmantelando a economia entregando-a a banqueiros gananciosos e corruptos, a interesses tutelados pelos casinos da finança internacional e a sistemas monopolistas privados disfarçados de empresários “de sucesso”. Pois a 130 dias apenas de terminar o mandato, o chefe do Estado não hesitou em dar posse a um governo austeritário que, em princípio, não poderá governar porque, de acordo com as mais elementares regras democráticas, não tem maioria parlamentar para o fazer. Manobra essa que, segundo a realidade disponível aos olhos dos portugueses, apenas servirá para prejudicar ainda mais a economia portuguesa, protelando por não sei quanto tempo mais a entrada em funções de um governo com legitimidade para governar. Ou seja, o senhor professor economista que usurpa a Presidência da República não hesita, deste modo, em continuar a atolar a economia de Portugal e os portugueses, o que sempre fez enquanto pregava exactamente o contrário.
A não ser que…
A não ser que o senhor saiba coisas que à populaça não comunica, as quais lhe prometem vida longa a um governo que, nos termos das mais elementares normas democráticas, é um nado-morto.
Aqui chegados resta-nos especular, coisa sempre um pouco traiçoeira mas que adquire legitimidade como processo de advertência e autodefesa perante um provável golpe em marcha.
Lembremos que o chefe do Estado, numa das suas várias intervenções pós-eleitorais, indigitou o chefe da coligação mais votada – e não do partido mais votado – para formar um governo ao qual faltam nove lugares parlamentares para ter legitimidade governante. Nas linhas e entrelinhas das declarações proferidas sobre a decisão, e entre apelos aos mercados para que aterrorizem os portugueses, o chefe do Estado lançou convites abusivos e intriguistas aos deputados do partido mais votado para que se revoltem contra as iniciativas do secretário-geral e da direcção do partido no sentido de formarem um governo anti-austeridade com maioria parlamentar e, além disso, esmagadora sustentação popular. Isto é, temendo ser incapaz de reconstruir o famigerado “bloco central”, versão light de partido único, o agente dos mercados em comissão de serviço na Presidência da República Portuguesa arvorou-se em manipulador do cenário político e alcoviteiro de querelas partidárias.
Talvez o senhor, porém, estivesse não apenas armado de intenções cisionistas, mas também na posse de dados até agora dispersos no pântano infecto em que o poder lusitano esbraceja.
É que no dia em que o governo nado-morto tomou posse e foi anunciada a irreversibilidade do processo de acordo de incidência governativa entre o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP, do lado do PS consta que um tal Francisco Assis está disposto a servir-se do “direito de tendência” – como sempre uma tendência para a direita – para se opor ao entendimento entre o seu partido e partidos à esquerda. Pergunta-se: será que o “direito de tendência” de Assis irá tão longe como arrebanhar deputados do PS aritmeticamente necessários para viabilizar o governo nado-morto, gémeo do que arrasou Portugal e avassalou os portugueses com a miséria e a emigração para cumprir as ordens dos credores? Será que entre o chefe do Estado, os serviçais de agiotas Passos e Portas e o citado Assis terá havido um acordo secreto austeritário para que a choldra governante possa continuar a burlar a democracia e a torturar os portugueses? Sem o colaboracionismo de Assis ou outro que tal, o governo empossado não se aguentará com uma moção de rejeição, quanto mais com três.
Vamos crer que a democracia continue a despertar em Portugal e que um governo ilegítimo nascido morto jaz morto e arrefece. E, contudo, Assis mexe-se; ou seja, há uma conspiração em marcha para ressuscitar o cadáver.
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quinta-feira, 22 de outubro de 2015
UMA PORTA QUE ABRIL ABRIU
Apesar dos exorcistas, dos falsificadores da História e dos eternos salazarentos ora travestidos de democratas com via única, a verdade é que a revolução de 25 de Abril de 1974 abriu muitas portas em Portugal, e até no mundo. A porta da democracia, a porta da liberdade, a porta do desenvolvimento de um povo antes submetido às amarguras da escravidão, a porta da descolonização. Foram as portas que Abril abriu, cantadas pelo imortal José Carlos Ary dos Santos - poeta cuja obra, o talento e o poder das palavras o regime tem soterrado no situacionismo da cultura de bordel.
Não sei que frutos poderão dar as diligências em curso para encontrar um governo capaz de aplicar uma política alternativa à chacina social, ao holocausto da democracia instaurados pelos partidos herdeiros do passado autoritário, aggiornate pela ditadura financeira da União Europeia. Admito, porém, que o Ary esteja contente, como satisfeitos deverão sentir-se os democratas autênticos, porque vivemos um exercício de democracia verdadeiramente pluralista através da procura de uma convergência de interesses que possa corresponder aos anseios da esmagadora maioria dos portugueses, mesmo de muitos que, embalados pelas palavras venenosas da ex-maioria, se deixaram burlar mais uma vez.
O exercício da democracia foi uma das portas que Abril abriu e que uma fileira de políticos submetidos a ordens forasteiras foram encerrando paulatinamente, para dar espaço a uma forma tumoral de governação, uma degenerescência da democracia original. Chamam-lhe “arco da governação”, “bloco central”, “compromisso de centro-direita” e outras aleivosias atrás das quais se disfarça um conceito singular: a política de direita exercida como democracia única, uma forma de autoritarismo talvez ainda benévola, mas susceptível de endurecer ao compasso das resistências à arbitrariedade da casta dominante.
Já percebemos que a simples reabertura da porta da democracia provocou uma tempestade no sistema instalado. O que se diz, escreve, mente e atemoriza sobre as negociações e eventual entendimento entre o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP, os Verdes e o PAN, que somam uma inquestionável maioria absoluta de 123 deputados numa Assembleia de 230, deveria passar a figurar em todos os tratados de manipulação, má-fé e até ignorância política. Desde ser “ilegal” porque “deverá governar quem teve mais votos” e menos deputados, até à entronização governamental de uma minoria em nome da estabilidade e ao argumento de que o país estaria a “desafiar” a União Europeia, o terrorismo ideológico tomou conta do povoado. Antes a troika que tal sorte, escrevem uns; “o gonçalvismo está de volta”, gritam outros, alguns dos quais sem fazerem a mínima ideia do que falam; o “arco da governação” é a “solução natural”, pregam em uníssono o cardeal de turno e o ex-ministro das Finanças que chamou a troika e ex-patrão da Bolsa, dando de barato que o Estado é laico e os interesses da grande maioria dos portuguesas e os do casino dos especuladores são divergentes.
No meio dos lugares comuns da propaganda mais boçal vão surgindo as mensagens elaboradas, logo ainda mais sinistras, daquelas que bebem do fino de Bilderberg, de Washington e Bruxelas, porém muito progressistas, prafrentex e “independentes”. Pede-se a mudança do sistema eleitoral para que a Assembleia da República esteja aberta apenas ao “arco da governação”; alvitram-se mais poderes para o Chefe do Estado, de modo a que este possa corrigir, a qualquer momento, desvios preocupantes para a ditadura do dinheiro; invocam-se os “compromissos internacionais” como troncos a que cada cidadão português seja amarrado para salvaguarda dos interesses dos que piratearam a democracia.
Negociar um governo alternativo, porém, é a essência da democracia, é o respeito pela vontade maioritária dos portugueses. Dos portugueses que não aceitam a austeridade, que estão fartos que lhes confisquem os salários, subsídios e pensões, que estão saturados de pagar fortunas para que os banqueiros possam continuar a esbanjar e a atafulhar paraísos fiscais. Dos portugueses que exigem direitos associados ao trabalho, que desejam horários laborais compatíveis com a cidadania e as vidas familiares, que pretendem o reforço dos investimentos - e não a penúria crescente - na saúde, na educação, na cultura, nas pescas, na agricultura, na restauração da economia. Negociar um governo alternativo é estancar a sangria das famílias e dos cidadãos vítimas da emigração; é deixar de ser carne para canhão dos agiotas que fazem a guerra aos povos manipulando as dívidas soberanas com os cordelinhos viciados de Bruxelas.
É difícil reabrir esta porta de Abril, talvez a mais essencial de todas elas? Mais duro é viver atascados no pântano social que nos criaram.
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terça-feira, 20 de outubro de 2015
GANGSTERS
No meio de documentos que a Srª Hillary Clinton foi obrigada a entregar à justiça norte-americana no quadro das investigações de que está a ser alvo, por causa do desempenho como secretária de Estado de Obama, estão papéis arrepiantes. Como este: um “memorando secreto” enviado em Março de 2002 pelo então secretário de Estado, Collin Powell, ao seu presidente, George W. Bush, assegura que a realização de uma guerra contra o Iraque teria sempre o apoio do primeiro-ministro britânico, ao tempo Tony Blair. “O Reino Unido seguirá a nossa liderança”, escreveu Powell, garantindo assim a Bush que poderia começar a preparar a guerra ao receber Blair no seu rancho de Crowford, o que aconteceu em finais desse mesmo mês de Março.
Esta informação, que corre agora tranquilamente pelas agências noticiosas internacionais, tem o conteúdo de uma bomba, mas não é como uma bomba que explode aos ouvidos e olhos dos cidadãos mundiais, duvida-se até que chegue ao conhecimento da maioria deles.
O memorando de Powell revela que um ano antes de a invasão do Iraque se ter iniciado os Estados Unidos e o Reino Unido já tinham decidido que a fariam. Prova-se assim que as sanções contra o povo do Iraque, os arremedos de negociações e as célebres provas sobre a existência de armas de destruição massiva em território iraquiano – que o mesmo Powell se encarregou de fabricar e levar à ONU – foram manobras e mistificações para servirem de pretexto a uma decisão já tomada. A reunião das Lajes, que o governo barrosista de Portugal se dispôs a acolher, adquire, a esta luz, contornos ainda mais vergonhosos para a diplomacia portuguesa e europeia, porque se fez para fingir ao mundo que ia tomar-se uma decisão já tomada. Um faz-de-conta que, daí a dias, proporcionou o início de uma chacina de milhões de seres humanos, ainda longe de estar concluída.
Nesse mês de Março de 2002 já as tropas da NATO se atolavam no conflito do Afeganistão para supostamente combater os talibãs, que por sua vez acolhiam o terrorista Bin Laden, um criminoso criado pelos serviços secretos dos Estados Unidos e que este mesmo país identifica como responsável pelo 11 de Setembro de 2001. Ao virar a mira contra o Iraque, os gangsters de Washington – versão engravatada dos pistoleiros do velho Oeste para consumo do novo Oeste – chegaram a acusar Saddam Hussein de ser cúmplice de Bin Laden e respectiva Al-Qaida, quando os dois eram inimigos fidagais, como não demorou muito a provar-se. Mal os Estados Unidos e os seus mais sonantes aliados da NATO tomaram Bagdade e enforcaram Saddam, o território iraquiano tornou-se base de uma miríade de grupos terroristas na qual não apenas medraram muitas variantes da Al-Qaida como nasceu o famigerado Estado Islâmico.
Documentos como este “memorando secreto” de Collin Powell ajudam a perceber como se promovem as guerras de hoje. Para lançar as da Líbia e da Síria nem terá sido necessário um qualquer escrito de um qualquer secretário de Estado: a porta da mentira estava escancarada.
O Médio Oriente, que já era um barril de pólvora nesse mês de Março de 2002, degenerou num foco de instabilidade militar no meio do qual é fácil detectar rastilhos mais do que suficientes para uma guerra global. Os responsáveis são conhecidos e deveriam estar a contas com tribunais que punem crimes contra a humanidade. Porém, George W. Bush e Collin Powell vivem reformas douradas; de Barroso conhecemos o rasto, desde as malfeitorias à cabeça da Comissão Europeia até ao Grupo de Bilderberg, areópago da conspiração imperial, onde ganhou assento permanente.
E Blair? Treze anos depois te ter comunicado que “seguiria o líder” na devastação do Médio Oriente é o chefe do Quarteto para o mesmo Médio Oriente, entidade burlesca que, fiel aos interesses israelitas e aglutinando os Estados Unidos, a União Europeia, a ONU e a Rússia, finge que a chamada comunidade internacional continua à procura de uma solução para o conflito israelo-palestiniano.
Não só por causa dessa burla, mas também, assiste-se à situação cínica e revoltante de ver a bandeira da Palestina ondular nos mastros da sede da ONU numa altura em que o povo palestiniano está cada vez mais distante do seu Estado independente e viável.
Somos governados por gangsters e mentirosos.
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domingo, 18 de outubro de 2015
A VERDADE DA MENTIRA
Orifícios de balas e não a acção de um míssil
A comissão de inquérito institucional ao derrube na Ucrânia do avião malaio que fazia o voo MH17, em 17 de Julho de 2014, anunciou finalmente o que toda a gente já sabia desde o primeiro momento: que o aparelho, com 300 pessoas a bordo, foi abatido por um míssil russo Bulk, operado por serviços especiais russos.
O que poderá não passar de uma grandessíssima peta tornou-se verdade oficial. Não é a primeira vez que isso acontece à escala da propaganda global, e provavelmente não será a última.
As conclusões da comissão de inquérito, de inspiração holandesa e apadrinhada pela NATO e os principais governos desta aliança, esfumam de uma penada todos os indícios susceptíveis de responsabilizar o governo fascista de Kiev pela tragédia. Através de supostas reconstituições informáticas – como se os computadores não respondessem em função dos dados que lhes são fornecidos – desapareceram de cena os aviões Sukhoi ucranianos que escoltaram o Boeing malaio alguns segundos antes de este ser abatido; os orifícios redondos observados na fuselagem, na zona do kokpit, eclipsaram-se da investigação, o que não é de somenos porque remetiam para disparos realizados pelos citados caças Sukhoi; as manipulações fotográficas baralhando tempos e espaços e que serviram de sustentação à tese do míssil transformaram-se em documentos credíveis; as informações dos controladores de voo em serviço em Kiev no momento da tragédia, e que deram conta da presença dos caças Sukhoi e também de um suspeitíssimo desvio de rota indicado ao aparelho, por sinal para um corredor perigoso por causa da guerra civil, foram ignoradas no processo de inquérito.
Enfim, não se fez um inquérito; por artes mágicas, montou-se um quebra-cabeças de supostos dados fidedignos para alcançar o resultado anunciado pelas autoridades de Kiev poucos segundos depois do derrube do avião. De facto, o senhor Anton Gerashenko, um figurão nazi que serve de conselheiro ao ministro ucraniano do Interior, Arsen Avakov, revelou em cima do acontecimento que o avião fora derrubado por um míssil russo Bulk. E fê-lo no momento em que forças especiais do mesmo ministério, manipulado pelo aparelho neonazi ucraniano, tomaram conta da torre de controlo do aeroporto de Kiev e passaram a filtrar todas as informações sobre o sucedido. O assalto da torre pelos comparsas fascistas não provocou qualquer constrangimento aos inquiridores oficiais, pelo contrário, deve ter-lhes facilitado o trabalho para engendrarem uma conclusão que já conheciam quando iniciaram a produção da mentira.
A criação e o funcionamento da comissão institucional de inquérito não passou de um pró-forma com o objectivo de dar credibilidade a uma teoria que não resistiria ao mais elementar contraditório, se este contraditório fosse possível e não esbarrasse numa sinistra barragem de mistificação.
A utilidade de tal comissão não se resume, neste caso, ao que atrás ficou escrito. O seu papel foi apurado através do momento escolhido para anúncio dos resultados, precisamente aquele em que as forças armadas russas tomam a seu cargo, praticamente sozinhas, o desmantelamento do grupo de facínoras que dá pelo nome de Estado Islâmico. Não é por acaso que Anton Gerashenko, o citado conselheiro do ministério do Interior de Kiev, acaba de incentivar o mesmo Estado Islâmico a lançar uma “guerra santa” contra os russos onde quer se encontrem. Os amigos dos nossos amigos nossos amigos são: sendo a NATO unha e carne com o governo fascista de Kiev é natural que este sinta afinidades com o Estado Islâmico, ainda há poucos dias contemplado com lançamentos de reforços de armas feitos por aviões norte-americanos. Não com destino ao Estado Islâmico, segundo a versão oficial, mas para “as oposições sírias”. Conhecendo nós o histórico destes abastecimentos e o que vale uma versão oficial emanada de Washington e seus acólitos, que também podem ser holandeses como no caso do MH17, não nos faltam caminhos para entender a verdade destas mentiras.
Entretanto, no campo de batalha sírio os efectivos russos e o exército regular de Damasco prosseguem a tarefa antiterrorista, tendo como principal óbice, porém, a destruição das instalações petrolíferas através das quais o Estado Islâmico se financia alimentando um generoso mercado negro de hidrocarbonetos. Claro que estes proveitos seriam cortados se os terroristas não tivessem quem lhes compre o contrabando. Mas clientes não faltam, sobretudo Israel e as ditaduras do Golfo, que por sua vez assim alumiam faróis da democracia como são os países da União Europeia e da NATO.
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sexta-feira, 16 de outubro de 2015
CHAMA-SE A ISTO SOBERANIA
Sabemos que o primeiro-ministro português ainda em exercício, fiel ao seu lema Portugal atrás e os portugueses em último lugar, considera a soberania uma “batota”, como declarou no debate televisivo com o seu principal rival nas eleições. “Batota” pensar em primeiro lugar na vida dos portugueses, que deve submeter-se antes aos mecanismos do euro e às exigências dos agiotas; “batota” agir em primeiro lugar na defesa da economia portuguesa e só depois pesar os interesses dos alemães ou de quaisquer outros; “batota”, enfim, ser o Estado português a elaborar e aprovar o seu próprio orçamento e não a Alemanha e outros por ela.
De modo que o orçamento de Estado para 2016 caiu em cheio no período de negociações sobre o próximo governo como recado fundamentalista dos autocratas da União Europeia, exigindo que o país não mude de política. Digamos que, sob a capa de um calendário quiçá “irrevogável”, a Comissão Europeia pediu ao minoritário governo em funções em Portugal que envie para Bruxelas imediatamente – e já está atrasado – um projecto de orçamento com base na continuação das mesmas políticas, sem qualquer alteração. Estipula ainda a Comissão Europeia – em boa verdade constituída por cavalheiros e cavalheiras que ninguém elegeu em parte alguma, a não ser a fazer de conta no Parlamento Europeu – que se porventura vier a existir um outro governo este envie as suas alterações ao projecto orçamental, sujeitas à decisão final da mesma Comissão.
Em defesa das suas exigências, os senhores e senhoras de Bruxelas vão brandindo instrumentos por eles mesmos cozinhados para, imagine-se, combater a crise, como o “two pack”, o “semestre europeu”, o “tratado orçamental”, coisas de que o cidadão comum é vítima desconhecendo sequer que existem, e muito menos as respectivas consequências, porque foram escamoteados da opinião pública com ratificações à sorrelfa e redigidos num europês tecnocrático apenas ao alcance dos austeritários que os produziram e poucos mais.
Pois se julgavam que Portugal era um país soberano, tirem daí o sentido. Os portugueses foram a votos, deixaram a maioria em minoria, seguem com alguma ansiedade um processo de negociações capaz de traduzir essa decisão em governo, mas em Bruxelas é como se nada tivesse acontecido e os eleitores não existam. O que Lisboa tem de fazer, para que assim se cumpram as normas europeias, é submeter o orçamento do Estado às instâncias da União elaborado como se não tivesse havido eleições e a minoria continuasse a ser maioria.
Se por um qualquer bambúrrio se formar em Lisboa um governo discordando desse projecto de continuidade, o que tem a fazer é enviar para Bruxelas as propostas de alteração, que certamente não tardarão no lixo se contrariarem a continuidade austeritária. Assim funciona o diktat de Bruxelas, melhor será escrever o diktat de Berlim.
Em Portugal, os situacionistas da crueldade social em que se vive continuam a fazer suas as ordens de Bruxelas, como as eleições tivessem sido de faz-de-conta. Formar um governo reflectindo a nova composição do Parlamento será “um golpe de Estado”, um “atentado contra a nossa vocação europeia” ou, como diz aquele indivíduo para quem não há almoços grátis, será o mesmo que produzir “uma enorme quantidade de irrealismo”.
Cada cidadão português, como cada cidadão de qualquer país da União Europeia, deve ter a noção de que Bruxelas exerce um poder de chantagem e de veto sobre as suas vontades e decisões expressas da maneira mais democrática que existe, o voto.
As decisões dos cidadãos, por definição de democracia, são soberanas. Isto é, sobrepõem-se também aos compromissos internacionais se estes forem obstáculos ao respeito pela vontade maioritária. Com estas palavras não pretendo defender que os compromissos internacionais sejam para desrespeitar por dá cá aquela palha. Os compromissos internacionais, porém, não são tabus inamovíveis aos quais se sujeitem valores fundamentais do ser humano. Tal como as dívidas, são negociáveis e reajustados quando existe uma vontade democraticamente legitimada para o fazer. Esse é o papel dos governos.
A isto chama-se soberania; submeter-se a diktats não é soberania; pior do que batota, é reles sabujice.
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quarta-feira, 14 de outubro de 2015
O CONSPIRADOR
Os portugueses ganham menos, trabalham mais e correm riscos mais elevados de despedimento.
Quem o diz? A CGTP? O PCP ou o Bloco de Esquerda? O “radical” António Costa? Se o leitor respondeu de acordo com alguma destas óbvias alternativas errou redondamente.
Quem o diz é a insuspeitíssima OCDE, entidade neoliberal por essência e definição, concluindo assim que a vida dos portugueses está cada vez pior. As motivações do desabafo só os próprios a conhecerão, mas agora que, segundo a coligação que nos deixou neste lindo estado, as coisas iam tão bem, esta conclusão parece traiçoeiramente combinada entre a dita OCDE e as diligências de António Costa para fazer um governo contra a austeridade.
Ao mesmo tempo, imagine-se a amplitude da conspiração, a Global Wealth Report, uma das várias entidades que avaliam a saúde das finanças dos mais ricos do mundo, deduziu que Portugal tem menos milionários, mas mais ricos.
Isto é, por um lado os portugueses ganham menos, trabalham mais e vivem na corda bamba do desemprego; por outro, os milionários portugueses são em menor número, helas!, mas estão mais ricos.
Surge então o ex-presidente da Comissão Europeia, um indivíduo que devia estar a prestar contas ao Tribunal de Haia por crimes contra a humanidade, e adverte os militantes do PS que nem se atrevam a permitir um governo de aliança entre o seu partido e os partidos à esquerda, porque isso irá trazer elevados custos aos portugueses. A quem? Aos que carregam o peso da austeridade ou àqueles pobres milionários, coitados, que estão menos ricos, quiçá até aos que estão mais ricos?
Depois das quedas na bolsa provocadas pela “instabilidade política” conjugada com a “ameaça de um governo de esquerda”, depois das insistências de Bruxelas para que o governo – em minoria – envie rapidamente o “projecto de orçamento” do próximo ano, depois dos recados dos bancos segundo os quais, como “motores da economia”, exigem uma célere e estável “solução política”, depois das mensagens cifradas do rei de Boliqueime, faltavam-nos as ameaças silvadas pelo ex-presidente da Comissão.
O homem nem hesitou em interromper o seu repouso sabático, talvez correndo o risco de perder o telefonema capaz de o projectar para novos e altíssimos voos, tão empenhado está em acudir aos portugueses assim ameaçados de ganharem ainda menos, de trabalharem ainda mais, de alongarem a interminável fila dos desempregados. Ele, o ex-presidente da Comissão Europeia que não hesitou em fazer das mentiras guerra e assim provocar a perda de milhões de vidas humanas – é verdade, a ordem de grandeza das vítimas mortais das guerras por ele apoiadas já se avalia em milhões; ele, que depois do desmantelamento do Iraque e da Líbia também tem as mãos sujas do sangue dos sírios, pois sabe-se como a União Europeia contribuiu e contribui para esta tragédia; ele, que está na origem da via-sacra dos refugiados a caminho da Europa e que, enquanto presidente da Comissão, nada fez – antes pelo contrário – para que a Europa tivesse uma política de imigração.
Dir-se-á: pois sim, o homem será isso tudo mas também é um patriota. Ainda muito novinho, revolucionário em folha, impediu que os portugueses tombassem nas mãos do tenebroso “social-fascismo”. Depois, como primeiro-ministro de Portugal, foi o anfitrião ideal da tal cimeira dos grandes democratas Bush, Aznar e Blair que iria levar a democracia a cada recanto do Médio Oriente e só não o conseguiu devido às tramoias do “terrorismo”. A seguir, já como presidente da Comissão Europeia, defendeu bravamente os interesses dos portugueses enviando-lhes a troika, protegendo os agiotas que lhes sugam os bens, colocando-se ao lado da benemérita Merkel, que só por um triz não ganhou o Nobel da Paz, contribuindo para que aos seus concidadãos fossem impostos tratados e outros artifícios austeritários, de modo a instaurar a ordem nas benditas finanças públicas. É certo que a dívida continua a crescer, os números fintam os discursos oficiais, mas há que dar tempo ao tempo e espaço à minoria governamental.
Enfim, o homem que fez tudo o que esteve ao seu alcance para que os portugueses ganhem menos, trabalhem mais, emigrem muito mais e vivam cada vez mais à beira do desemprego é a voz segura e certa para advertir os mesmos portugueses de que irão ganhar menos com um governo à esquerda. Ele sabe do que fala; sobretudo, sabe como se conspira.
Etiquetas: antónio costa, barroso, cimeira das lajes, comissão europeia, governo de esquerda, Iraque, Merkel, ocde, Portugal, Síria, tribunal de haia, troika, União Europeia
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