quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Mozinhos




Rio Bom – Mozinhos – Rio Torto – Souto – Bebeses, de Penedono

[1]“ (…) Manda-se aos tabeliães de Trancoso que informem os juízes e oficiais dos concelhos de Marialva, Ranhados, Numão, Pena de Dono, Lomgroiva e Moreira que não embarguem as portagens nem os homens de Trancoso que delas tratam, sob pena de 500 soldos (…) ”.
Com esta transcrição, abrimos o exercício de perscrutação cujas lucubrações nos levam a infinitos caminhos da História do nosso país, região e dos reais traços da ocupação humana.  
De facto, para o leitor, para o observador contemporâneo, menos atento e familiarizado com o estudo do percurso histórico regional, se aflorarmos, aqui, a deveras importância dos moinhos de água, porventura, desvalorizará o facto, à luz do que hoje se apresenta, no panorama da vida corrente.
Claro que há referências a traços culturais, há hábitos e costumes campesinos, concernentes ao ciclo do pão, nem que seja através de trechos de autores dos séculos, nomeadamente, XIX e até meados do XX, há registos fónicos e fotográficos, no entanto, aquilatar da importância de um rodízio, de uma mó à beira de um curso de água, isso tornar-se-á mais problemático. Por vários motivos, sobretudo porque a nossa dieta alimentar, hoje, é muitíssimos mais diversificada, os nossos recursos financeiros são outros e a tecnologia agroalimentar não se compadece de tais meios rudimentares, aliás, mesmo antes da mudança alimentícia, por volta de 1930-1940, a introdução de novos instrumentos moageiros revolucionou o sector cuja capacidade produtiva arredou o moinho de água para o domínio do obsoleto.
Assim, quero, pois, trazer à liça os lugares do Rio Bom e o do Rio Torto, de margens pejadas de gente, em torno dos seus moinhos, até praticamente 1970. Trata-se de localidades, entre as povoações de Bebeses, Mozinhos, Póvoa, Souto, Ranhados, Cedovim e dos Pereiros e que aglutinavam a população dos concelhos de São João da Pesqueira, Penedono, Mêda, Vila Nova de Foz Côa e, como ilustramos, o de Trancoso, isto no respeitante ao superior interesse de acesso aos engenhos que moíam o grão, transformando-o em farinha para o forno do pão do qual dependiam todas as bocas.
Na confluência do Rio Bom, que outrora poderia ter outro nome, com o Rio Torto ficou situado um povoado designado Mozinhos. O étimo deste topónimo, antiquíssimo, está no latim: monachinos (de monachu: monge), talvez directamente, pois não se pode provar que tenha existido um termo como Mouzinho ou mozinho do nosso léxico arcaico ou proto-histórico, pelo que o significado do topónimo é monástico, ou seja, alusivo a um pequeno mosteiro que terá existido neste local profundo e remoto e quase rodeado de águas. Terá sido o lugar, pelo seu ambiente natural, grato a eremitas de Santo Agostinho ou monges negros. Este terá sido o mosteirinho (atente-se no diminutivo) que com a ermida é referido no testamento de D. Châmoa. Aqui nos Mozinhos ainda existe uma ermida dedicada a Santa Bárbara. Registe-se, ainda uma afirmação de Alexandre Herculano, ilustre historiador, liberal e notável vulto da cultura portuguesa da segunda metade do século XIX, segundo o qual mozinho significava, ainda nos anos de 1850/80, acólito ou petiz ajudante nas homílias, ou seja, jovem sacristão. De facto, apesar da ausência documental, há vários indícios, porventura, demasiadas coincidências, no sentido de nos levar a acreditar que o actual lugar dos Mozinhos terá sido sítio de antigo mosteiro, ou, provavelmente, de pequeno mosteiro (mosteirinho). Até que ponto, eventualmente, na sequência de ruínas, não corresponderá esta capela ao sítio do mosteirinho. Todavia, esta capela de Santa Bárbara, efectivamente, será uma construção recente, eventualmente, do século XVII. Na madeira do forro, pintado, aludindo a lendas bíblicas, paradisíacas, esteve inscrita a data e o patrocinador da remodelação, obras ou melhoramentos. Por incúria dos moradores, das entidades eclesiásticas, autárquicas e governamentais, deixou-se que o seu telhado quase se desmoronasse, ao ponto das águas pluviais penetrarem nas tais tábuas policromadas, deteriorando-as. A  nova reconstrução, embora, generosamente, promovida por Alcides Dinis de Sousa, não terá tido os cuidados necessários de modos a preservar os ditos elementos identificativos. De qualquer modo, é comumente aceite, segundo relatos geracionais, que se trata de um culto mandado erigir pela família Aguiar, de quem descende o autor, cuja ascendência conhecemos, através dos registos paroquiais, pelo menos, a partir dos finais do século XVII. Alguns relatos sugerem que o promotor da reedificação foi Joaquim António de Aguiar, casado com Maria da Assunção Correia, esta natural de Bebeses que faleceu em 1 de Março de 1880, com a idade de 70 anos, tecedeira, filha de Francisco Manuel da Costa (já alfabetizado) e de Josefa Maria. No entanto, descobrimos no arquivo diocesano de Lamego que a capela de Santa Bárbara já existia por volta de 1700. Joaquim António Aguiar, faleceu nos Mozinhos a 26-8-1881, aos 66 anos, era filho de Francisco António Rodrigues (natural de Freixo de Numão) e de Ana Joaquina Aguiar, dos Mozinhos, esta filha de Pedro Aguiar, de Ariola, (falecido a 21-1-1815) e de Ana Maria, filha de Manuel Jorge e de Ana Ribeiro, dos Mozinhos; Joaquim António Aguiar e Maria da Assunção Correia eram pais de Manuel de Jesus Aguiar e de Francisco Manuel Aguiar (baptizado em Outubro de 1852), este casado com Teresa de Jesus Costa, de Bebeses, aquele casado, em segundas núpcias, com Maria das Candeias Costa, irmã de Teresa de Jesus Costa. Francisco Manuel Aguiar e Teresa de Jesus Costa eram pais de Filomena Aguiar, por sua vez, casada com José Joaquim de Sousa (ambos falecidos em Dezembro de 1973), da Póvoa; avós de Luísa de Jesus Sousa e, por último, bisavós do autor deste texto. Todavia, e apesar de todos os relatos apontarem para o facto da edificação se associar à família referida, bem como a guarda da capela ter estado largo tempo sob a responsabilidade das mulheres desses Aguiar, nomeadamente Teresa de Jesus, Filomena Aguiar e Maria da Assunção (filha de Filomena), a verdade é que o nome de Bárbara aparece, pelo menos cerca de 1800, associado a esta e noutra família distinta também dos Mozinhos, ou seja, Bárbara Maria, ascendente de Francisco António Rodrigues (Freixo de Numão), genro de Pedro Aguiar e, por outro lado, Maria Bárbara, mulher de Manuel Gregório, mãe de Maria José (falecida a 1-10-1862, com 77 anos) que casou com Alexandre José, mãe de Leonor do Nascimento, trisavós paternos do autor. Também no Rio Bom existiu uma Maria Bárbara, afilhada de Maria José, residente nos Mozinhos, em casa dos padrinhos, por morte do seu pai, Joaquim Grelo, afogado no Rio Bom (21-1-1862), aos 40 anos, e, por curiosidade também esta Maria Bárbara aparecera afogada (28-2-1866), aos 8 anos, mas no Rio Torto, no lugar do Chão Vermelho, também por casualidade hoje propriedade do autor.
Conquanto, na pequena vertente da encosta defronte dos Mozinhos, na outra margem do Rio Bom ou ribeira do Rio Bom, quase na sua foz com o Rio Torto, houve um pequeno santuário, ainda temos memória de ruínas xistosas e episódios lendários correlativos, dedicado a São Francisco de Assis. Mesmo, à data deste apontamento, podemos observar, ao cimo, os restos da pequena ermida dita de São Francisco (que eventualmente terá dado nome ao topónimo do lugar actual) e, ligeiramente, abaixo, os restos das paredes xistosas de uma casa pequena, que se diz, antiga habitação do zelador permanente pelo templo. A estatueta de São Francisco, granítica, foi, entretanto, levada para a localidade de Bebezes, freguesia da Póvoa de Penela, permanecendo, descuidadamente numa parede da antiga fonte pública e, posteriormente, abrigada numa moradia particular, no Bairro da Soalheira, da mesma povoação. Aqui poder-se-á colocar a tese se, a ter existido aí um mosteirinho, poderia não ter sido dos monges negros segundo a regra beneditina, mas, antes, um mosteirinho franciscano, até por ser, porventura, mais tardio, poderia fazer sentido. Umas das lendas relacionadas com o santuário de São Francisco, narra um episódio segundo o qual a população tinha por costume fazer oferendas em louvor do santo, um determinado pastor fez a promessa de um bode. Perante a graça concedida, o pastor procedeu à oferenda, amarrando o animal à estatuária, no interior da dita capela, pelo que o bode, de tão forte, arrasou as paredes, arrastando a estátua, fugindo e, assim, se danificou, por quase completo, o que então restava do santuário.
Por outro lado, as melhores terras, agricultáveis à beira do Rio Bom e do Rio Torto terão sido couto, assim como os limites da quinta adstrita, a Risca. A partir das reformas fundiárias e administrativas da década de 1830, na sequência da revolução liberal de 1834, quer nos Mozinhos, quer na Trancosã os bens foram adquiridos por particulares. A este propósito, importa aqui relembrar a resposta ao inquérito do reino, na sequência do terramoto de 1775, ou seja, as memórias paroquiais, adiante transcritas. De facto, como se verifica, a produção de batata era desconhecida à entrada para a segunda metade do século XVIII nesta região o que tolhia drasticamente a dieta alimentar, provocando subnutrição generalizada de onde se destaca o elevadíssimo índice de mortalidade infantil, numa época de crescimento demográfico, nomeadamente em redor dos moinhos do Rio Bom, onde se moía o grão quase todo o ano e, assim, não se aproveitava a água para rega de produtos mais tarde essenciais como a batata, o feijão, tomate, entre outros. O linho era, então a produção cimeira das margens do Rio Bom, a par da actividade de moagem, por isso se dá conta de tecedeiras, nomeadamente em Bebeses e nos Mozinhos.                                                     
Segundo Pinho Leal, o concelho de Souto já existia antes de Afonso Henriques, independentemente do foral. À semelhança das regiões similares de São João da Pesqueira, Paredes e de Penela. O concelho do Souto virá do século XI.
Com efeito, nas inquirições e confirmações de 1258, encontra-se: fórum faciunt regi villa de Souto: peitam a el-rei voz-e-coima por seu foro, e vão na hoste e anúduva, e dão na colheita de el-rei, e dão ao rico-homem também colheita, e dão a el-rei sua parada, e fazem-lhe outros foros seus consoante se contém na carta de foral que tem pelo foro de S. João da Pesqueira e de Paredes e de Penela e de Ansiães e de Linhares.
Perante a igualdade de circunstâncias e de expressões, essa carta de foral poderá ser a mesma que, em igualdade, o rei Fernando Magno de Leão, entre 1055 e 1065, concedera àquelas vilas da região das bacias do rio Douro, neste caso a margem Sul em linha com Lamego, retaguarda estratégica dos campos de batalha pela conquista e consolidação dos campos de Sátão, Viseu, Seia e Coimbra.
O padre D. Joaquim de Azevedo, historiador eclesiástico, do século XVIII, diz desta vila e concelho: em um alto frio, com ladeira grande para o rio Torto, (…) ficando do outro lado o pequeno povo da Trancosã que é termo do Souto, é terra abundante de água e frio, mas sadia; teve hospital, de que só a notícia existe; (…) tem capela de João Osório da Veiga Cabral; do Espírito Santo, no lugar de Arcas; da Senhora da Lapa, entre a vila e Arcas; Santa Bárbara, nos Mozinhos; Nossa Senhora da Piedade, na Trancosã; tem mais o lugar da Risca, várias quintas e moinhos no rio Torto e no rio Bom (…); governa-se por juiz ordinário, vereadores e oficiais da Câmara.
Souto ou Couto de Leomil, foi vila e sede de concelho até 1834.
A freguesia de Souto, uma vez extinto o concelho, passaria a fazer parte do concelho de Penedono e é então designado Souto de Penedono, por se situar contiguamente, a cinco quilómetros a Norte da sede concelhia ou para se distinguir dos muitos soutos que proliferam no território nacional. De facto, não haverá distrito em Portugal que, no âmbito da toponímia de povoações adstritas, não tenha um qualquer lugar, freguesia ou concelho com essa designação. A freguesia do Souto compreende os lugares de Arcas, Mozinhos, Rio Bom, Rio Torto, Risca, Souto, Trancosã, Quinta do Beselgo, Quinta do Vale e Borda do Souto.
Em 2010, viviam permanentemente três pessoas nos Mozinhos, cinco na Quinta do Vale, e doze na Risca. Esporadicamente, permaneceriam quatro ou seis na Trancosã, mais um ou três nos Mozinhos e dois a três na Risca. O Rio Torto, o Rio Bom e Quinta do Beselgo perderam os seus habitantes, no caso do Rio Bom desmoronaram-se por completo os moinhos e as respectivas habitações, cortes, cortelhos e anexos. Ainda nas memórias paroquiais é clara a referência a moinhos de água que moíam quase todo o ano, bem como a existência de um regime de distribuição de água, segundo o qual havia períodos para os moleiros moerem os cereais e os agricultores regarem os terrenos bordejante, durante épocas de seca (três dias para rega; três para os engenhos, assim, sucessivamente). Numa das primeiras cartas militares publicadas do século XX faz representar o relevo acidentado, pejado de ocupação humana onde se destacam: Meladas, moinho da D´larosa, moinho Manuel Joaquim, moinho do Gouveia, quinta do Bezelgo e moinho do Freixo, este já próximo dos Mozinhos.
Se a fonte arquivística nos traz algumas indicações relativas à capela de São Sebastião, da Lapa e do Espirito Santo, já no que toca a Nossa Senhora da Piedade, Santa Bárbara e a São Francisco, praticamente nada existe de substancial.
Assim, tentaremos aqui deixar tudo que encontrámos de fontes coevas e memórias colectivas, transmitidas de geração em geração.
No entanto, para melhor se entender comecemos pois pelo necessário enquadramento histórico. De facto, Souto de Penedono foi propriedade de Leomil como então era descrito, Souto de Leomil para ser distinguido dos outros soutos, que abundavam no território.
A vila e couto de Leomil cuja jurisdição, D. João III confirmou a D. Guiomar, passou, depois, para o senhorio dos marqueses de Marialva. Depois da morte de D. Guiomar Coutinho, sem sucessão, e com a consequente extinção da casa de Marialva, em 9 de Dezembro de 1534, o padroado das igrejas transitou para a posse da coroa. Foi, desse modo, em 1536, transferido para a Universidade de Coimbra.
A coroa cedeu os direitos de padroado, nomeadamente da igreja de Penela da Beira, Sendim, Paredes, Freixo de Numão, Antas e Penedono.
Em 1841 faziam parte da diocese de Lamego 240 paróquias, entre elas, 12 de São João da Pesqueira, 10 da Meda e 8 de Penedono. O padroado de Souto de Penedono manteve-se na casa de Marialva até à morte do último conde, passando então para o infante D. Luís, por direito de herança do seu irmão.
Ainda regressado a Leomil, salientemos, entre os notáveis, personagens no campo da cultura, como o jesuíta António do Soveral, nascido em 1563, leccionou letras humanas e retórica em Braga, em Coimbra e em Évora; Freire Dionísio dos Anjos, filho de Luís Tavares e de Helena Ferreira, professou o instituto dos eremitas de Santo Agostinho, leccionou ciência escolástica, em 1606 colaborou na corte, em Lisboa.
No início do século XVIII a capela do Desterro, em Penedono, tinha como administradores o capitão Manuel Filipe e João Rodrigues de Matos, de Leomil, constituindo, entre os seus encargos, o de dar pousada aos peregrinos.
Na capela da Senhora do Carmo, Penedono, em Novembro de 1729, celebrou-se o casamento de Miguel Carlos de Vasconcelos de Almacave (Lamego) com D. Antónia Teresa Pinto Cabral, filha de José Cardoso Amaral, do Souto e residente em Penedono.
Teodósio da Fonseca Coutinho, de Marialva, casou, em Penedono, com Maria Henriques Aguiar que foram depois pais de Feliciana Maria Coutinho que casou com José de Aguiar Donas Boto, do Vilarouco, em 1729.
Em 1750 a paróquia de São Pedro de Penedono contava 50 fogos, 90 “pessoas de comunhão”, 28 de menor idade; Alcarva 50 vizinhos; prova 106; Ourozinho 70; Póvoa 100; Antas 120; Beselga 130; Castainço 100; Granja 70; São Salvador 67 fogos, 185 “de sacramento” e 23 menores; Ferronha 50 fogos, 120 adultos e 4 menores; Ado Bispo 15 fogos, 30 adultos, 12 menores. O abade de São Salvador provia Granja e Castainço; Beselga era do seminário de Lamego.
As encomendas das paróquias eram feitas a mestres de fora, residentes, temporariamente, no local de execução, a título de exemplo, citemos, em 1720, em Penedono, os pedreiros: Domingos Afonso, oficial, natural de Senfins, Valença do Minho; Domingos Cunha, natural de Formariz, Paredes de Coura. Carpinteiros: Sebastião Francisco, de Guimarães, trabalhava em Penedono, desde 24 de Setembro, de 1692. Ainda no decorrer do século XVII, há referências de entalhadores residentes em Arcas.
Ora, partindo do princípio de que a capela de Nossa Senhora da Piedade, da Trancosã, e a capela de Santa Bárbara, dos Mozinhos, datam, no mínimo do século XVII, será lícito deduzir que terão sido os mestres pedreiros, carpinteiros e entalhadores responsáveis pelas obras, nomeadamente, a da capela da Trancosã, magnifica talha dourada. Já no que se refere aos óleos pintados em tábuas de carvalho, porventura poderão ter sido as famosas oficinas de Ferreirim cuja proveniência datam dos tempos de Vasco Fernandes (Grão Vasco) cujo maneirismo marcou decisivamente a região, como, sem dúvida, Freixo de Espada à Cinta, conhecida como a vila mais manuelina de Portugal. Uma coisa é certa, a capela de Nossa Senhora da Piedade apresenta um programa iconográfico singular na região, muito em similitude com Lamego e, quiçá, a região do Oeste minhoto. Já sabemos que a capela foi propriedade do morgado da Torre de Moncorvo, Francisco António, o que nos garantirá a razão de tamanho investimento financeiro para a época e, por outro lado, a existência, na Trancosã, de rendeiros originários de Jales (entre Minho e Trás-os-Montes) e de Cambres (Lamego) provenientes de terras do antigo couto de Leomil. Em 1814 faleceu Maria Brites, mulher do respectivo ermitão, cargo que Manuel Aguiar desempenhava na capela de Nossa Senhora da Piedade.
 Em arquivo não descortinámos documentações que nos auxilie acerca de intervenções nas respectivas capelas, apenas sabemos que já existiam em 1700, por descrição de pároco da diocese de Lamego, da descrição de 1758, em memórias paroquiais e uma alusão a gasto de 5000 reis no registo de despesas da Junta da Paróquia do Souto, por iniciativa do então presidente, Luís Augusto Sobral, da Risca (finais do século XIX). Em relação à capela de Santa Bárbara, no Mozinhos, para além das atrás citadas referências de 1700 e das respectivas memórias paroquiais, há, ainda a memória, atrás dita, da eventual intervenção do casal Joaquim António Aguiar (Freixo) e Teresa de Jesus Costa.
De forma sucinta, podemos adiantar, de memória, que a capela de Nossa Senhora da Piedade apresentava um chão lajeado e paredes de xisto e passou a ostentar chão de mosaico e paredes de granito (imagine-se num lugar de xisto), a estatuária julgo ser, actualmente, réplica de originais (sabe-se lá onde terão ido parar), os ex-votos parece que foram guardados e alguns dos magníficos óleos dos caixões e de quadros parietais também julgo serem réplicas. As portas e demais madeiras deram lugar ao alumínio, resta a belíssima talha dourada e alguns quadros originais.
Em relação à capela de Santa Bárbara, da tal intervenção de Joaquim António Aguiar não ficou praticamente nada: o tecto foi alteado, a madeira pintada do forro e da parede do altar desapareceram, a ara do altar foi arrancada e substituída por cimento, o soalho deu lugar a mosaico e o mobiliário apodreceu com a voracidade do tempo, quando a preservação não é aplicada, e, como não poderia deixar de ser, a madeira vetusta da porta desapareceu, agora uma insignificante e triste portinha de alumínio dá para as vistas da Póvoa e de Valongo e, mais perto, para a antiga capelinha de São Francisco que já nada deixa mirar. Entre a capela de Santa Bárbara, no cume do monte, nos Mozinhos, e o cerro do monte onde se situou a capelinha de São Francisco, de fronte, na meia encosta, da margem direita da ribeira (rio Bom), intrigantes marcas cavadas nas fragas esperam por alguém capaz de descodificar. São covinhas e traços perpetrados por mão humana cuja datação e leitura não se apresenta ao nosso alcance.
Dado que aqui queremos deixar testemunho de habitantes onde já ninguém reside citemos:
- [2]O Processo Maria Lopes, moleira, residente no Rio Torto, mulher de Gaspar Rodrigues, moleiro, filha de Daniel Rodrigues e de Maria Lopes, moleiros.
- Escritura de Compra e Venda – Rio Bom/ Souto – numa época de desvalorização do Rio bom, enquanto local de moagem.
Escritura de compra e venda com quitação e obrigação. Vendedor Ana Joaquina Félix, viúva, proprietário do Rio Bom – Souto. Comprador. Francisco Augusto Paulo, casado, jornaleiro, do Souto. “(…)ano de mil novecentos e doze, aos quinze dias do mês de Julho (…) Ana Joaquina Félix, viúva, proprietária, residente no lugar do Rio Bom (…) Comprador Francisco António Paulo (…) prédio misto composto de dois moinhos, casa de habitação, hortas e pinhal no lugar do Rio Bom que parte do Nascente com terras baldias; do Norte com herdeiros de António Cristino; do Poente com Rio bom com Lúcia Adelaide, que este prédio veio à sua posse a título de meação de seu marido Francisco António machado (…) pelo preço e quantia certa de setenta mil reis que já recebeu e da qual dá ao comprador plena quitação (…)”

 - Fotografias actuais
   
 
 
 






Recenseados eleitores e elegíveis do concelho – Mozinhos, Rio Bom, Rio Torto, Risca, Trancosã (todos homens) - 1880

Nome
Estado Civil
Morada-actividade
Idade
António Joaquim Novais
Casado
Trancosã-lavrador
59
António Manuel Aguiar
Casado
Mozinhos-lavrador
64
António José de Bastos
Casado
Trancosã-lavrador
72
António de Aguiar
Casado
Mozinhos-jornaleiro
48
António da Costa Cristino
Casado
Rio Bom-moleiro
32
António do Nascimento Coto
Casado
Rio torto-moleiro
28
António Bernardo Peixeira
Casado
Mozinhos-lavrador
30
Bernardo António
Casado
Trancosã-lavrador
46
Camilo de Lelis
Viúvo
Rio Torto-moleiro
71
Francisco António de Sobral
Casado
Risca-Proprietário
62
Francisco de Paula Sobral
Solteiro
Risca-jornaleiro
39
Francisco Machado
Casado
Rio Bom-moleiro
43
Francisco António Fonseca
Solteiro
Rio torto-pedreiro
35
Francisco da Ismenia(?)
Casado
Trancosã-lavrador
24
Francisco Manuel Aguiar
Casado
Mozinhos-Proprietário
28
Gil Augusto
Casado
Risca-lavrador
54
João da Cruz
Casado
Mozinhos-alfaiate
54
João Vieira Apolinário
Casado
Rio Torto-moleiro
42
João Evangelista
Casado
Mozinhos-lavrador
38
João António de Aguiar
Casado
Mozinhos-lavrador
40
João Cabral
Solteiro
Risca-jornaleiro
32
Joaquim Maria da Fonseca
Casado
Mozinhos-lavrador-soqueiro
28
José Fernandes
Casado
Trancosã-lavrador
55
José Ramos Peixeira
Casado
Mozinhos-pastor
48
José Joaquim Macieira
Casado
Mozinhos-lavrador
40
José Teixeira
Casado
Rio Torto-jornaleiro
35
José Grelo
Solteiro
Mozinhos-jornaleiro
35
José Santa Maria Ribeiro
Casado
Rio Torto-moleiro
37
José Joaquim Camilo
Casado
Rio Torto-moleiro
33
José António Lameiras
Casado
Rio Torto-moleiro
39
José da Engrácia
Casado
Trancosã-jornaleiro
26
José dos Santos
Casado
Rio Bom-moleiro
28
Luís Boavida
Casado
Trancosã-pastor
52
Manuel António do Alexandre
Casado
Mozinhos-lavrador
65
Manuel de Jesus Aguiar
Casado
Mozinhos-Proprietário
37
Matias da Trindade
Casado
Mozinhos-alfaiate
39
Manuel Descalço
Casado
Rio Bom-moleiro
41
Manuel Joaquim de Bastos
Viúvo
Mozinhos-lavrador
50
Manuel Cabral
Casado
Rio Torto-moleiro
40











[3]Relação dos moinhos accionados por água e a vapor existentes no concelho de Penedono, 1938

Nome do Proprietário
Freguesia
Localização
Obs.
Afonso Marques
Antas
Antas
A Vapor
Basílio Augusto
Antas
Ponte Pedrinha
Hídrico
Diamantino da Trindade Ramos
Antas
Ponte Pedrinha
Hídrico
António Augusto Mateus
Beselga
Beselga
-
Maria de Jesus
Beselga
Beselga
-
José do Espírito Santo Vilaça
Castainço
Castainço
-
Gracinda de Jesus Constança
Castainço
Castainço
-
Manuel dos Santos Costa
Castainço
Castainço
-
Abel do Nascimento Sequeira
Ourozinho
Ourozinho
-
António Pereira Sequeira
Ourozinho
Ourozinho
-
José Maria Ribeiro
Ourozinho
“Dourada”
-
Ana do Carmo, viúva.
Penedono
Ado Bispo
-
José dos Santos Gomes
Penedono
Penedono
A Vapor
Tristão Augusto Abrunhosa
Penela
Penela
-
Joaquim Simão
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
Hídrico
José António Freixo
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
José Joaquim Filipe
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
Manuel de Jesus Ribeiro
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
Maria de Jesus Tomaz
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
Abílio Mendes
Souto
Rio Torto
-
“Viúva de Manuel Mendes”
Souto
Rio Torto
-
Francisco António Freixo
Souto
Rio Bom
-
João Manuel Grelo Marques
Souto
Rio Bom
-
Manuel Joaquim Gomes
Souto
Rio Bom
-







Alguns Registos Paroquiais do Rio Bom e do Rio Torto
Rio Bom: (1710), baptizaram Maria, filha de Pedro Rodrigues e de Ana Lourenço. “No mesmo dia e anno baptizei e pus os santos óleos a Maria filha de Pedro Roiz e de sua mulher Anna L ço desta freguesia e moradores em Rio Bom e do prº matrimonio foram padrinhos os sobreditos Pde João de Proença e sua irmã Mariana e por ser verdade fiz este assento q. asigney dia e anno supera. O Encomendado Paulo Rebº Cardoso.”
Rio Bom:18-02-1787, baptizaram Maria Angélica Fernandes, filha de Manuel Fernandes e de Angélica Maria. “Em os dezoito dias do mez de Fevereiro do anno de mil sete centos e oitenta e sete:/com licença minha/ o Padre António Alvez da Rocha baptzou à Maria Angelica filha legítima de Manoel Fernandes da quinta dos Mozinhos e de sua mulher Angelica Maria natural do Rio Bom, veio sendo nepta paterna de Manoel Fernandes e de sua mulher Bernarda da Fonseca ambos naturaes dos Mozinhos e materna de Manoel Braz e de sua mulher Umbelina da Costa ambos do Rio Bom; foram padrinhos José Francisco e sua mulher Anna Maria da Trancosam todos os asima desta paroquia do Soito de Penedono, de que fiz este assento que assigno com as testemunhas abaixo. Paroco Encomendado João Carlos Fonseca Lopes; José Fernades; Joam Antonio.”
Rio Bom: 25-08-1808, baptizou-se João, filho de António Francisco e de sua mulher Maria Bernarda, natural do Rio Bom; neto paterno de Félix Francisco e de sua mulher Maria da Conceição, do Rio Bom; neto materno de José António e de sua mulher Teresa Maria, natural de Penela; padrinhos João Manoel de Morais e sua mulher Joaquina Fonseca; testemunharam Joaquim José e Félix António…
Rio Bom: 21-05-1810: João, filho de Diogo Luís. “Em os vinte hum dia do mês de Maio de mil outo centos e des por os santos óleos João a que foi batisado em casa no primeiro dia do seu nascimento que foi no dia catorze do dito mês e he filho de Diogo Luís e de sua mulher Josefa Leonor do Rio Bom desta freguesia; nepto paterno de Manoel dos Santos e de sua mulher Luísa Benta do lugar e freguesia de Sebadelhe; nepto materno de Francisco Rois e de sua mulher Antónia Lopes do lugar de Arcas desta freguesia forão testemunha Venancio José e João da Silva do dito Rio Bom desta freguesia do Souto….”
Rio Bom: 17-02-1811: Anna, filha de António Francisco. “Em os desassete dias do mês de Fevereiro de mil outo centos e onze batisei solenemente a Anna no oitavo dia do seo nascimento he filha de António Francisco e de sua mulher Maria Bernarda do lugar do Rio Bom desta freguesia do Souto; nepta paterna de Felis Francisco e de sua molher Maria da Fonseca do dito lugar; nepta materna de José António e de sua molher Theresa Maria do lugar e freguesia de Penela forão padrinhos Venancio José e sua molher Mariana Pereira do dito lugar e testemunhas Manoel António e seo filho Sebastiam António, desta villa…”


Rio Bom: 10-02-1816: baptizou-se Maria de Jesus, filha de Félix Manoel e de sua mulher Luísa Maria; neta paterno de José Francisco e de Maria da Fonseca, ambos da quinta de Arcas; neta materna de António Ribeiro e de Angelica Maria. Foram padrinhos Diogo Machado e Maria, de Arcas.
Rio Bom: 26-02-1816: baptizou-se Ana, filha de José Rodrigues e de Ana Luísa; neta paterna de José Rodrigues e de Laureana Maria; neta materna de Agostinho de Basto e de Luísa Teresa. Foram padrinhos José Ramos e Antónia Francisca, ambos de Ourozinho.
Rio Bom: 01-07-1816: baptizou-se Manoel, filho de Manoel José Rodrigues, da Ponte da Veiga, e de Antónia das Neves, do Rio Bom; neto paterno de José António Rodrigues e de Joana Maria, da Ponte da Veiga; neto materno de António Ribeiro…
Rio Bom: 08-07-1816, baptizou-se Clementina, filha de Manuel Ramos e de Ana Rodrigues, do Rio Bom, neta paterna de José Francisco e de Maria da Fonseca, naturais do Rio Bom, neta materna de José Gomes, dos Mozinhos e de Ana Rosa, de Arcas; foram padrinhos Ignácio Costa.
Rio Bom: 22-05-1817, baptizou-se Joana, filha de António Francisco e de sua mulher Maria Bernarda, esta de Penela e aquele do Rio Bom, neta paterna de Félix Francisco e de Maria da Fonseca, neta materna de José António e de Teresa Maria, naturais de Penela; foram padrinhos Francisco Nogueira e Joana Maria, de Penedono.
Rio Bom: 25-03-1868 (Reg.06) “Aos vinte e cinco dias do mez de Março do anno de mil oito centos e seSenta e oito nesta parochial igreja do Souto, concelho de Penedono, diocese de Lamego, eu Joze Lopes Abbade da mesma baptizei solenemente a um individo do sexo mascolino, a quem dei o nome de Manoel d´Assumpção, que nasceo nesta freguesia as sete horas da tarde do dia oito do dito mez e anno supera, filho legítimo de [terceiro do nome] António Joaquim Rodrigues, e de Balbina Jorge, moleiros, naturais, recebidos e parochianos em esta freguesia; neto paterno de José Rodrigues e de Anna Luiza; materno de Félix Manoel e de Luiza Maria. Foram padrinhos Francisco António de Sobral e Maria das Candeias, proprietários. E para constar mandei lavrar em duplicado este aSento, que depois de lido e conferido perante os padrinhos, comigo aSignou tão somente o padrinho e não aSignou a madrinha por não saber escrever. Era ut supera.  Padrinho, Francisco António de Sobral, Abbade José Lopes
Rio Bom: 25-08-1904(Reg.32). Baptizaram Fernando Augusto Grelo, filho de João Manuel Grelo e de Maria do Carmo Marques, moleiros. “Aos vinte e cinco dias do mez d´Agosto do anno mil novecentos e quatro n´esta igreja parochial do Souto, concelho de Penedono, diocese de Lamego, baptizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Fernando Augusto e que nasceu n´esta freguesia no logar do Rio Bom às quatro horas da manhã do dia dois do mez e anno supra, filho ligítimo, primeiro do nome, de João Manuel e Maria do Carmo Marques, casados, moleiros, moradores no referido logar, naturaes e parchianos d´esta freguesia; nepto paterno de António Bernardo e Maria do Nascimento e materno de francisco António Marques e Urbana de Jesus. Foram padrinhos, que sei serem os próprios, Francisco Manuel Aguiar e Teresa de Jesus Costa, casados, moradores nos Mozinhos d´esta freguesia. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de lido e conferido perante os padrinhos, só elle comigo assigna por ella não saber escrever, não colhi no duplicado sello por serem pobres, digo, os pais elle desta freguesia, ella de Custoias. Era ut supra. O Padrinho Francisco Manuel Aguiar; o Parocho Joaquim Manuel Saraiva Guerra
Rio Bom: 21-11-1876 – “Aos vinte e um dias do mês de Novembro, do anno de mil oitocentos e setenta e seis, no Rio Bom, do logar d´esta freguesia de S. Pedro do Souto, concelho de Penedono, bispado de Lamego, se depositou o cadáver d´um individuo do sexo masculino, por nome José Augusto, o qual faleceu pelas duas horas da tarde sem sacramentos, por aparecer morto em razão d´um desastre em terreno da freguesia da Póvoa, concelho e bispado supra citados, natural e morador n´esta minha freguesia, moleiro, de vinte anos d´idade, pouco mais ou menos; filho legítimo d´António Grelo e Maria do Nascimento, naturais d´esta freguesia e ella da mencionada freguesia da Póvoa, moradores n´esta freguesia, moleiros, o qual era solteiro e foi sepultado dentro da igreja parochial. E para constar lavrei em duplicado este assento que assigno. Era ect. Supra. Abb. Luís Clemente de sequeira.”



Rio Torto: 11-05-1839, ao oitavo dia do seu nascimento, baptizou-se Gertrudes, filha de Francisco António e de sua mulher (omitido o nome no registo), do Rio Torto; de avós paternos incógnitos; neta materna de Manuel João Mendes, de À do Bispo, e de Joana Maria, de Penedono; foram padrinhos José Joaquim e Maria da Assunção; testemunharam José Joaquim e Bernardino Plácido
Rio Torto: 12-12-1847, baptizou-se Francisco, filho de Manuel Tavares e de Escolástica Maria, aquele de Cedovim, esta do Terrenho, residentes na freguesia do Souto (Rio Torto); neto paterno de Sebastião Tavares e de Ana Chancoa, de Cedovim; neto materno de Manuel António da Silva e de Teresa de Jesus, do Terrenho; foram padrinhos João António Manso e Maria Joaquina, de Ranhados; testemunharam Apolinário José Vieira, de Ranhados, e Manuel António Sobral, da Risca; assina o “coadjuntor” José de Figueiredo.

Rio Torto: 18-08-1851, baptizou-se Maria, filha de José de Santa Rita e de Ana de Jesus, aquele da Fiarresga, esta de Penedono; neta paterna de Luís Manuel e de Maria Joaquina; neta materna de Maria Efigénia, solteira, da Fiarresga; foram padrinhos Francisco António e a sua mulher, ambos de Ranhados; testemunharam Manuel António Vasconcelos e João António Fernandes, do Souto.
Rio Torto: 07-11-1854, baptizou-se José Maria, filho de Manuel Tavares, de Cedovim, e de Escolástica Maria, do Terrenho; neto paterno de Sebastião Tavares e de Ana Chancoa, de Cedovim; neto materno de Manuel António da Silva e de Teresa de Jesus, do Terrenho; foram padrinhos José Maria Peralta, solteiro, e Ana Joaquina, solteira, ambos de Cedovim; testemunharam Joaquim de Almeida Proença e José Santa Maria Fernandes, do Souto.
Rio Torto: 27-07-1868 (Reg 19) “Aos vinte e sete dias do mez de Julho do anno de mil oito centos e sessenta e oito, nesta igreja parochial do Souto, concelho de Penedono, Diocese de Lamego. Eu José Lopes, Abbade da mesma freguesia pus solenemente os Santos Óleos a um indivíduo do sexo mascolino, por nome Manoel de Jesus que naceu nesta freguesia no dia quatro do mez de Março por sete oras da manham, foi baptizado em casa por verem perigo de vida, por Anna dos santos Costa, viúva do Rio Torto, filho natural de [primeiro do nome] Roza Joaquina, solteira, natural desta freguesia, moradora no Rio Torto, da mesma freguesia, nepto materno de Manoel José da Fonseca, e de Anna Sam José os quais todos vi serem os próprios. E para constar mandei lavrar em duplicado o presente assento, que asigno. Era ut supera. Abb. José Lopes”.
Rio Torto: 08-08-1891(Reg.26). Baptizaram [4]Deolinda da Assunção, filha de Manuel Cabral e de Rosa Joaquina. “Aos oito dias do mez d´Agosto do anno mil oito centos e noventa e um n´esta Egreja parochial de São Pedro do Souto, diocese de Lamego baptizei solenemente um indivíduo do sexo feminino, a quem dei o nome de Diolinda d´Assumpção que nasceu n´esta freguesia no dia sete do mez de Maio do anno supra, filha ligítima de Manuel Cabral e Maria Rosa, digo, Rosa Joaquina, moleiros, residentes no Rio Torto, casados, naturaes e parochianos n´esta freguesia, nepta paterna de Manuel António Cabral e Ana Candida, pastores, casados, naturaes e moradores parochianos, materna de Manuel José da Fonseca e Anna de Jesus, elle natural de Ranhados, ella de Ourozinho, casados, jornaleiros, moradores e parochianos n´esta freguesia. Foram padrinhos que sei serem os próprios José Maria Ferreira, elle de Penedono, ella de Ranhados, moleiros, residentes no Rio Torto, moradores e parochianos n´esta freguesia. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de ser lido e conferido perante os padrinhos só eu assigno por elles não saberem escrever. Era ut supra. O parocho Joaquim Manuel Saraiva Guerra”.


Rio Torto: 28-11-1880, pelas 2 horas da tarde (14h), numa casa do Rio Torto, limite da freguesia, faleceu António do Nascimento, tomamdo o sacramento da extrema-unção, casado com Maria da Luz, jornaleiro, de “quarenta e tantos anos”, filho de Francisco do Nascimento e de Helena Maria, naturais das Antas; deixou filhos, não fez testamento e foi sepultado dentro da igreja.

Rio Torto: 24-01-1881, pelas 7 horas da tarde (19h), “numa casa de moinhos sito no lugar do Rio Torto, limite desta freguesia de Sâo Pedro do Souto, faleceu um indivíduo do sexo masculino que nome não tinha por não ter sido baptizado solenemente, de desassete dias de idade”, filho de Francisco António Peralta e de Rita de Jesus, moleiros.



















Souto do Penedono, Pinhel - Memórias paroquiais, vol. 35, nº 232, p. 1653 a 1658
Transcrição
(fl. 1653) <D’el rey Souto do Penedono comarca de Pinhel> n. 232
Descripçam desta villa do Soutto de Penedono mandada fazer pelo Excelentissimo e Reverendissimo senhor bispo por recomendaçam de sua Magestade Fedelecima que Deus guarde.
1 Esta villa do Souto de Penedono, (cognome que se lhe impôs por estar huão piquena legoa da Penedono, para differença de outros Souttos que há e nam porque de Penedono tivesse ou tenha alguma dependecia mas antes consta do foral desta villa, que foi exarado no tempo do senhor rey D. Manoel de glorioza memoria, ser do coutto de Leomil, terra que hoje he do Excelentissimo Marques de Marialva)[5], fica na provincia da Beyra, bispado de Lamego, comarca de Pinhel, tem seu termo mas nam que tenha outros lugares ou aldeyas e tem huma só freguezia.
2 He de el rey nosso senhor sem que haja fama, fosse de domnatario salvo no tempo que estava incluza no coutto de Leomil, que antam delle se verefica ser do senhorio delle.
3 Tem cento e quarenta e sinco vezinhos e o numero das pessoas entre mayores e menores coatrocentas e vinte.
4 Está situada na falda de huma piquena serra que a faz abrigada do vento tempestuozo se bem exposta ao norte desta se descobre a praça de Almeyda, Castello Rodrigo, Escalham, em distancia de des legoas e na de duas se veem Freixo de Numam e Sabadelhe e na de huma legoa apparece Numam com seu castello e muros que dizem foi a antiga Nomamcia que tanto rezistio aos romanos, ainda que a piquena povoaçam que hoje há esta fora delles tambem está à vista o lugar dos Pereyros que hé do termo de S. Joam da Pesqueira, terra do conde do mesmo nome.
5 Nam tem esta villa aldeyas ou annexas mas só sim algumas quintans ou piquenos lugares que se incluem na mesma (fl. 1654) freguezia dos coais hum se chama Arcos e terá vinte e sinco vezinhos, o segundo se nomea Mozinhos e contem doze moradores, o terceiro se dis … e tem sete, o quarto e ultimo se appellida … e tem sinco.
6 A parochia ou igreja está dentro da mesma villa a que se aggregam as quintans e logareijos mencionados.
7 O seu orago hé o gloriozo appostolo S. Pedro tem a igreja tres altares o mayor em que está o tabernaculo e Sam Pedro e o lado do Evangelho e Santo Antonio da Epistola nos dois colaterais no do lado direito está huma distinta(?) imagem de Nossa Senhora do Rozario no do esquerdo huma imagem Christo Senhor nosso crucificado e esculpidos de huma e outra parte Nossa Senhora ao pé da crux e o dissipolo amado a igreja tem hum só nave há nella huma Irmandade das Almas que se compoem das pessoas da mesma freguesia e de romeires(?) das vezinhas.
8 O parocho hé abbade hé abbadia do padroado real de Sua Magestade que Deos goarde terá de renda pera o abbade trezentos(?) mil reis e pera a Santa Igreja patriarcal de Lisboa duzentos que entra na dita renda.
9 Nam teve, tem nem nunca teve beneficiados nem benefícios simpleces.
10 Da mesma sorte nam tem conventos de religiozos nem religiozas nem consta os houvesse.
11 Tambem nam há hospital nem Caza da Mizericordia.
12 Dentro da mesma há duas cappellas huão de Nossa Senhora das Merces que hé de hum Francisco Antonio da Torre do Moncorvo, provincia de Tras dos Montes que aqui tem hum seo morgado 13 outra popular da invocaçam de Nossa Senhora aqui (fl. 1855) da Crux aonde tambem está huma imagem do martir mayor S. Sebastiam e honde da freguezia para a quinttam de Arcos que dista meya legoa houve huma cappella com meyo caminho de Nossa Senhora da Lapinha porque huma grande lapa lhe servia de forro no leito na mayor parte della porem já antes do terremotto de mil e setecentos e sincoenta e sinco mostrava algum aballo e menos firmeza com o terremotto muito mais e dahy a pouco tempo cahio a dicta lapa e se arruinou a cappella agora se quer edificar de novo junto da arruinada e poderá conservar o nome pela antiga posse mas nam na realidade; na quinttam de Arcos há huma cappella dedicada ao divino Spirito Sancto aonde os vezinhos tem cappellam a quem pagam que dis missa nos dias de … pera os que nam podem ir a parochial, nos Mozinhos há outra cappella de Santa Barbora, na Travazam(?) que hé outra quinttam outra de Nossa Senhora da Piedade que haverá quarenta anos foi muito 14 frequentada de romeyros pelos muitos milagres porem hoje apenas no veram ahy apparece  algum, estas cappellas estam dentro dos seos lugares e sam dos seos moradores porem o direyto de apprezentar hermittoens ou cappellaens pera as missas pertence ao abbade da dicta freguezia.
15 Os fructos da terra de todos há mediania só o azeite hé menos, o mayor … hé de castanhas, donde sam duvida de deriva o nome da freguezia.
16 Tem dois juizes ordinarios que tambem servem dos orphans dois veriadores e hum procurador do concelho e escrivam da camera que todos se conservam(?) sem subjucam as justiças de outra villa só ser da correiçam do corregedor de Pinhel e provedoria da cidade de Lamego.
17 Nam he coutto e por si he concelho e villa de Sua Magestade (fl. 1856) que Deos goarde e pagam cada hum de seos moradores a parade(?) de hum alqueire de trigo cada anno e não só os moradores mas coalquer pessoa de fora que que aqui tenha bens de rais, por mínimos que sejam.
18 O tempo que tudo risca de memoria não a deixou de subjeitos que daqui se singularizassem notoriamente nas vertudes, armas ou letras.
19 Nesta villa nem dentro do seu termo nam há no discursso de todo o anno feira ou mercado algum.
20 Da mesma sorte nam há nella correio e se serve do da villa de Freixo de Numam que dista daqui duas legoas.
21 Dista esta villa da cidade de Lamego que hé a metropole e cabeça do bispado outo legoas e da cidade de Lisboa capital do reyno sesenta.
22 Tem esta villa previlegio para se elegerem no principio do anno por eleiçam tabaliaens e escrivam dos orphans dando lhe ao depois de eleito o corregedor da comarca provimento aos tabaliaens e o provedor ao dos orphans o que nam há nas villas vezinhas.
23 Nam há fonte nem lagoa celebre nem aguas de especial virtude.
24 Nam há porto de mar mas antes dista esta donde hé mais perto vinte legoas que tantas há daqui a cidade do Porto.
25 A villa não he murada nem consta nem há vestigios o fosse que em nenhum tempo e por isso nam hé nem foi nunca praça de armas nem ha nella nem na vizinhança castello ou torre.
26 Nam padeceo ruina no terremoto do anno de mil e setecentos e sincoenta e sinco alem da cappella de Nossa Senhora da Lapinha asima referida que tracta de repararsse.
(fl. 1857) 1 Perto desta freguezia corre para a banda do nascente o rio Torto nome que sem duvida tem porque correndo por terras asperas faz muitos giros.
2 Nasce em huma fonte que se chama a fonte do Milho daqui três legoas ou duas e meya entre as Anttas e a villa de Trancozo não he caudelozo mas antes os mais dos annos estereis e faltos de agua seca no veram ainda que no inverno corra pecipitado.
3 Nam entram nella rios de nome salvo alguns regatos sem nome ainda que muitos por serem as terras e pais monsuozas(?) e que o planas.
4 Nam he navegavel e como seca os mas dos veroens nam cria senam alguns piquenos pisciculos que nascendo com aguas novas acabam no estio.
5 As suas margnes se cultivam se bem em poucas partes se rega com as suas aguas tanto porque nellas <como> não corre como poque nas suas vizinhanças nam há boas terras.
6 O seu cursso será de sete <ou> outo legoas e correndo por entre os povos de Antas, Ranhados, Peso do Canto, Cedovim, Soutto, Povoa, Pereyros, Vallongo, Trevaens(?), Sam Joam da Pesqueira, Castanheiro, Ervedoza, entra no rio Douro entre a villa de Valença e Cazais, aonde perde o nome o pouco cabedal de suas aguas.
7 Tem muitos moinhos de moer pam com suas acudes que ordinariamente nam moem todo o anno por falta de agoa.
(fl. 1858) 8 Tem outo ou nove pontes todas de pau que tambem há rios sem ventura mas a couza vem a ser porque as terras por onde passa sam quentes e de pedra piçarra ou louzinha e a marmore fica distante para a sua condução.
9 Por sima da quintam de Arcos que como esta dicto pertence a esta freguezia e por baxo da villa de Penedono no meyo nasce hum piqueno rio a quem se dá o nome de Riobom que terá quasi huua legoa de cursso e fenece no dicto rio Torto, tem moinhos de … que moem quasi todo o anno ainda que no veram mais lentamente e por acordans das justiças estam adjudicados tres dias da somana para regar os seos redores e os mais para moerem os moinhos.
Nam há serra que se faca ponderavel nem digna de memoria, nem outras notabilidades dignas de se expressarem que as terras humildes e piquenas em tudo o sam.
O abbade Antonio da Costa Payva [assinatura autógrafa]




Póvoa de Penela, Pinhel - Memórias paroquiais, vol. 30, nº 245, p. 1861 a 1868
Transcrição
(fl. 1861) n.º 245 <Povoa de Penella e Penella – duas villas da comarca de Pinhel>
1º Villa de Povoa de Penella, Provinçia da Beyra Alta, pertence ao bispado de Lamego e à comarqua de Pinhel, hé villa sobre si, chamaçe Povoa de Penella por estar juncto da villa de Penella, distante hua da outra hum coarto de legoa, estas duas villas sam ambas hum só termo, há em cada hua dellas hum juis ordinário e cada hum dos juizes tem jurisdiçam em ambas as villas e asim juizes, como vereadores sam de hua villa metade e da outra villa metade a saber hum procurador do conçelho, hum juis e hum vereador de huma das villas e da outra hum juis e hum vereador, e para outro anno, hum juis, vereador e procurador do conçelho da villa em que nunca tinha havido procurador doutro anno e ahonde tinha havido procurador o anno preterito há somente juis e vereador. E asim sam repartidas as justiças por costume immemmorial hé termo e conçelho todo hum, hé freguezia sobre si.
2º Hé esta villa donataria e ao prezente hé donataria della o Excellentissimo Marqués de Marialva e conde de Cantanhede.
(fl. 1862) 3º Tem esta villa çento vinte e coatro vezinhos e pessoas maiores trezenas e trinta e sete.
4º Está esta villa situada em sima de hum monte para a parte do nasçente e norte custozo de subir e para a parte do sul e poente hé terra plana e boma de andar descobremçe desta villa e monte em que está situada as terras seguintes a villa de Penella, distante hum coarto de legoa, e a villa de Valongo do Azeite, distante meia legoa, o lugar dos Pereyros, distante huma legoa, Provozende distante coatro legoas, o Castello de Ançiens distante coatro legoas e muitas mais da provinçia de Tras dos Montes arcebispado de Braga.
5º Tem esta villa termo seu mas mestiço com a villa de Penella tem mais esta villa hum lugar chamado Bubezes que tem vinte e dous vezinhos, tem mais hua quinta que chamam da Retorta que tem coatro vezinhos, tem outra quinta chamada da Portella, que tem dous vezinhos, tem mais hua Ribeira aonde habitam onze vezinhos e todos estes assim do lugar e quintas e ribeira junctos com os da villa fazem o numero asima declarado de cento e vinte e coatro vezinhos e trezentas e trinta e sete pessoas maiores.
(fl. 1863) Está a parrochia desta villa dentro della e tem o lugar chamado Bubezes asima declarado e tem mais tambem duas quintas hua chamada Retorta outra a da Portella e hua ribeira chamada Ponte da Veiga.
7º O orago desta villa e freguesia hé de Santa Margarida, virgem e martir, tem a igreija tres altares hum o mayor aonde está o Santissimo Sacramento, outro de Nossa Senhora do Rozario e outro do mártir Sam Sebastião nam tem esta igreija nave tem hua irmandade das almas.
8º Hé o parrocho desta freguezia vigario perpetuo hé aprezentado do povo e moradores da freguezia à eleiçam que se faz para o vigario assistem os officiais do concelho tomando as vozes aos moradores da dita freguezia e esta eleiçam se aprezenta o ordinario bispo de Lamego perante o qual se vai colar o clerigo nomeado e que teve mais vottos para ser vigario, renderá em cada hum anno outenta mil reis pouco mais ou menos os quais lhe pagam parte delles a Universidade de Coimbra a quem (fl. 1864) pertençem todos os dizimos e premiçias e outra parte lhe paguam os moradores da mesma freguezia.
9º Nam tem beneficiados.
10 Nam tem conventos.
11 Nam tem hospital.
12 Nam tem caza de mizericordia.
13 Tem duas hermidas hua dentro da freguezia da Senhora da Piedade esta pertençe a pessoa particular por ser de morgado, outra em lugar de Bubezes de Santo Amaro esta pertençe aos freguezes do ditto lugar e nella ouvem missa nos domingos e dias Santos para o que pagam hum cappellam que lhas diz(?)
14 Vem a esta cappella em romage muitas pessoas por devoçam no dia do santo que hé a quinze de Janeiro.
15 Os fructos que recolhem os moradores desta villa em maior abundancia sam centeio, e tambem algum trigo muito milho grosso (fl. 1865) a que chamam milham, muita castanha, azeite bastante para os moradores, feijoens brancos, muita castanha da India, que vulgarmente nesta villa chamam castanholas, linho a que chamam galego este regadio.
16 Tem esta villa juis ordinario e mais officiçias da camera.
17 Hé esta villa coutto por ser do Excellentissimo Marqués de Marialva, nella nam entra a justiça do corregedor.
18 Nam há memoria de que della floreçeçem ou sahiçem alguns homens insignes por virtude, letras ou armas.
19 Nam tem esta villa feyra algua.
20 Nam tem esta villa correio servese do correio de Freyxo de Numam que dista desta villa três legoas.
21 Dista esta villa da cidade de Lamego cidade capital do bispado sete legoas e da cidade de Lisboa cidade capital do reyno sesenta legoas.
22 Nam tem esta villa privillegios mais do que ser coutto e nam poder entrar (fl. 1866) nella a justiça do corregedor da comarqua de Pinhel.
23 Há somente nesta villa hua fonte de cantaria de agoa commua e bom gosto.
24 Está esta villa muy distante do mar.
23 Nam hé esta villa murada nem há nella castello algum nem torre antiga.
26 Nam padeçeo ruina algua no terremoto de mil e seteçentos sincoenta e sinco.
27 Nam há nesta villa outra couza mais digna de memoria que se faça mençam.
Nam há nesta villa serra por cuja cauza senam fala aos interrogatórios que por ella procuram.
Rios
1º Passa e corre juncto desta villa hum rio que se chama Ponte da Veiga nasçe este rio no lemite da villa de Penedono em hum monte e sittio aonde chamam a Batiçella.
2º Nam nasçe caudelozo mas corre todo o anno.
3º Nam entra nelle outro rio.
(fl. 1867) 4º Hé rio piqueno e nam hé capás de embarcaçam.
5º Hé de curso quieto emthé meia distançia e muito arebatado da meia distançia para bayxo.
6º Corre este rio do sul para o norte.
7º Na distançia de curso arebatado cria alguns peixes piquenos de bom gosto que se chamão bordalos.
8º Nam há nelle pesquarias mais de quaes peixes em que asima se fala.
10[6] As margens deste rio em todo o seu curso quieto se cultivam e sam bomas e dam muitos fructos e tem muitas arvores de fructo e silvestres.
11 Nam tem agoa este rio de virtude particular.
12 Conserva este rio o nome de Ribeira da Ganja em todo o seu curso quieto e no curso arebatado o muda em a ribeira da Ponte da Veiga e nam há memoria que em outro tempo tivesse outro nome.
13 Morre este rio chamado da Ponte da Veiga em outro rio que se chama rio Torto e entre elle distante desta villa meia legoa.
14 Tem este rio muitos asudes de moinhos.
15 Tem este rio no seu curso quieto duas pontes de pedra mas nam de cantaria e no curso arebatado tres pontes de pao hua (fl. 1868) na ponte da Veiga, outra no val das Malhadas, outra e ultima à ponte de Ferreyrim.
16 Tem este rio muitos moinhos que moem pam em todo o anno, tem dous pizoens.
17 Em nenhum tempo se tirou nem hoje se tira ouro das suas areas.
18 Asim os moradores desta villa como os moradores do lugar da Granja uzam livremente das agoas deste rio para cultura dos campos sem pençam algua.
19 Tem este rio somente hua legoa de comprido passa juncto da povoaçam do lugar da Granja de Penedono e meio quartel de legoa distante desta villa.
20 Nam tem couza algua mais notável que dizer se possa deste rio .
O reverendo vigario da villa da Povoa de Penella
Francisco Rodrigues Mouzinho [assinatura autógrafa]











[1] Chancelaria de Dom Afonso V, liv. 20, fl 17, doc. 3, Lisboa, 08-01-1440
[2] Estatuto social: cristã-velha
Idade: 35 anos
Crime/Acusação: heresia
Naturalidade: Rio Torto, freguesia de Souto de Penedono, bispado de Lamego
Morada: Rio Torto, freguesia de Souto de Penedono, bispado de Lamego
Pai: Daniel Rodrigues, moleiro
Mãe: Maria Lopes
Estado civil: casada
Cônjuge: Gaspar Rodrigues, moleiro
Data da prisão: 02/03/1728
Sentença: auto-de-fé de 09/05/1728. Abjuração de veemente, degredo para o couto de Castro Marim, por três anos, instrução na fé católica, penitências espirituais, pagamento de custas.
Cota atual
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, proc. 61
[3]Os moinhos das duas margens do Rio Bom foram em maior número, no entanto, esta foi a relação elaborada pelos serviços da Câmara Municipal de Penedono e enviada para o Governo Civil de Viseu, em 1938. Todos os moinhos do Rio Bom, Ribeira da Póvoa/Ponte da Veiga e Rio Torto eram movidos a água, a partir de açudes e diques construídos nos respectivos leitos. Cada moleiro, particularmente no Rio Bom, possuía mais do que um engenho. Utilizavam geralmente uma mó para moer o trigo, outra para o centeio. Em certos casos, como, por exemplo, Francisco António Freixo/ Natividade Grelo, tinham ainda uma mó para o grão (grão de bico e garrobas) e outra para o milho, estes detinham três moinhos (um apetrechado com duas mós) em cadeia cuja levada percorria os engenhos de cima a baixo, desviada a água por um açude a montante e a meio curso por um dique, juntando-se no terceiro moinho e retomando logo o leito ao acabar de mover o engenho do quarto moinho (o primeiro e cimeiro foi de outros moleiros), rente ao rio. Embora esta relação de 1938 refira os moinhos aqui expostos, havia no conjunto das habitações de anteriores engenhos moradores que se dedicavam à agricultura, à pastorícia e às jornas, nomeadamente na quinta da Retorta, destaque-se os do moinho do Bento, do Chega à Riba e os do Freixo, estes nas duas margens, perto dos Mozinhos. No total dos núcleos que se dedicaram à actividade da moagem, no Rio Bom, ficaram conhecidos os nomes dos últimos moleiros/moradores: Manuel Joaquim Gomes/Dolorosa (margem direita, freguesia do Souto, próximo da quinta de Arcas); Lúcia (margem direita); Caldeirão (margem direita); Natividade/ Francisco António Freixo (margem esquerda), freguesia da Póvoa, lugar de Bebese), este faleceu em 1956, mas a viúva manteve-se ainda na década de 1960, falecendo em 1997; Mouco (margem direita); Grelos (margem direita) [João Manuel Grelo/ Maria do Carmo Marques], pais de natividade e de Cândida, mulher de Manuel de Jesus Grilo, o bento; Bento (margem esquerda); Chega à Riba (margem esquerda); Freixos (ambas as margens) [Joaquim Freixo/Mafalda]. No Rio Torto existiram vários engenhos, a jusante dos acima citados, quase todos destruídos com cheias da década de 1960. Na Ribeira da Póvoa, até mais tarde ficaram na memória colectiva mais tardia os moinhos do Guerra, do Mocho e do Nascimento (este o último a deixar de laborar e familiar da família do Rio Bom, a Lúcia).
[4] Casou com José Joaquim, em 1908, na igreja de Ranhados e faleceu, viúva, em Ranhados, 1976.
[5] Nota: pontuação existente no documento original.
[6] Sic. Passa do número 8 para o número 10.