quarta-feira, 22 de junho de 2011

MOZINHOS


Terça-feira, 7 de Setembro de 2010
Não sei como o topónimo Mozinho se radicou para sempre no monte mais importante da Terra de Penafiel. Na meia-idade, é sabido, abundavam no país os sacristães, a que, de modo geral, se dava o nome de mozinhos, se bem que não era denominação exclusiva. Os mozinhos eram moços, e outros sim adultos, que serviam nos templos, mediante remuneração, algumas vezes destinados à vida eclesiástica. Viterbo fala-nos até de uma Confraria de Moozinhos existente em Coimbra no ano de 1281. Há muito que desapareceram os nossos mozinhos. O mais novo do meu conhecimento vivia no final do séc. XVI. Vi-o num assento de baptismo, letra do tempo, da freg.a de S. Romão do Coronado, era de 2-12-1590. Espanha ainda tem hoje os monaguillos ou monacillos, irmãos dos nossos mozinhos, quanto ao nome e sua origem. No séc. XVIII, têm-me aparecido uns ermitães a morar junto a capelas confiadas à sua devota guarda. Vou referir-me apenas a dois, ambos chamados Domingos, que viveram nas cercanias da «Ermida da Senhora da Lapa ou Santo António» (sic), da freg.a de S. Martinho de Lagares. O primeiro, Domingos Alves, já se encontrava «Velho de ssetenta annos de hidade» quando fez o seu testamento, em 20-6-1710, que possuo em cópia, por inteiro. O meu regalo era transcrevê-lo todo aqui, tão formoso é aquele testamento! (E aonde o espaço para tanto?). O outro ermitão, Domingos do Sacramento - nome tão sugestivo! - vem nomeado numa escritura de doação, feita em 11-9-1748, de que também tenho cópia fiel. Os outorgantes dessa escritura, senhores que eram da «Caza de Ordins», disseram que doavam à referida «Capella e a seos eremitoes» um cerrado contíguo à mesma, porque estavam muito agradecidos ao Domingos do Sacramento, pelo seu grande zelo em manter «a dita Capella bem ornada e venerada». Tais ermitãos, a bem dizer eram sacristães daquele tempo, herdeiros do ofício dos mozinhos de antanho. (Ainda há poucos anos ouvi chamar «ermitão» ao sacristão do Bom Jesus, em Braga). Depois disto, alguém achará impossível imaginar um mozinho, em serviço de sacristão, junto da ermida de S. Antão (fora de dúvida, muito anterior a 1622), ou então muito perto do Mosteiro das Freiras? Por mim, teimo em vê-lo em tal sítio, a uma distância plurissecular, a projectar-se, no futuro, mercê de uma simpatia tão forte criada na alma do Povo que fez que ele identificasse o monte com a veneranda pessoa do Mozinho.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1969-05-16, p.04



candeiavelha às 00:04 | link do post
PDFEmail

Palavras chave
todas as tags
Contacto
"Luz de Candeia Velha"

COM A COLOBORAÇÂO DO

 

 

 

blogs SAPO

terça-feira, 14 de junho de 2011

Poemas - Antologia 750 Anos D. Dinis (1261-1325)

 Rei D. Dinis

 Rainha Santa Isabel

Cantiga de Amigo a D. Dinis

Ai Reino, ai nações de verde tino,
Se sabeis novas do vosso destino!
Ai Deus, como será?
Ai Reino, ai nações do verde voo,
Se sabeis novas do meu ardor!
Ai Deus, como será?
Se sabeis novas do vosso destino,
Aquele que mentiu e o pôs de mal comigo!
Ai Deus, como será?
Se sabeis novas do meu ardor,
Aquele que a mim atraiçoou!
Ai Deus, como será?
Aquele que mentiu e o pôs de mal comigo,
O bodo não repartiu contigo!
Ai Deus, como será?
Aquele que mentiu e pôs de mal contigo,
Da marmelada branca não conheceu o sabor!
Ai Deus, como será?



Cantiga de Maldizer a D. Isabel

Moçoila, cândida, foste-vos a Trancoso achar
De Castela, juvenil, a Portugal para casar
Mas que ligeireza o vosso salto no andar
Em que o destino vos conduzia
Vede pois o marido que foste desposar
Menina já de Castela saudades sentia

Esposo, homem feito, pareceu-vos trovador
Rei experimentado nos cânticos do amor
Poeta dos salmos de Santa Maria, com fervor
Apreciador de barrigas de freira em Odivelas
Causou-vos partos e muita dor
Doçuras, insónias, orando, incandescendo velas

Donzela, Rainha, o ventre não pôde esperar
O reino, precisava de sucessão para governar
O Rei era Deus na Terra e tinha que prosperar
A Rainha era Santa, sem acção do anjo Gabriel
Por obrigação tínheis com o Rei copular
Milagrosa Isabel, antes da marmelada, havia o mel

Luís Urgais (Luís de Sousa Peixeira)

Viseu, 14 de Junho, de 2011