sexta-feira, 17 de junho de 2016

Moinhos - Mozinhos- Bebeses- Arcas- Rio Bom- Ribeira da Póvoa- Rio Torto

Relação dos moinhos accionados por água e a vapor existentes no concelho de Penedono, 1938



Nome do Proprietário
Freguesia
Localização
Obs.


Afonso Marques
Antas
Antas
A Vapor
Basílio Augusto
Antas
Ponte Pedrinha
Hídrico
Diamantino da Trindade Ramos
Antas
Ponte Pedrinha
Hídrico
António Augusto Mateus
Beselga
Beselga
-
Maria de Jesus
Beselga
Beselga
-
José do Espírito Santo Vilaça
Castainço
Castainço
-
Gracinda de Jesus Constança
Castainço
Castainço
-
Manuel dos Santos Costa
Castainço
Castainço
-
Abel do Nascimento Sequeira
Ourozinho
Ourozinho
-
António Pereira Sequeira
Ourozinho
Ourozinho
-
José Maria Ribeiro
Ourozinho
“Dourada”
-
Ana do Carmo, viúva.
Penedono
Ado Bispo
-
José dos Santos Gomes
Penedono
Penedono
A Vapor
Tristão Augusto Abrunhosa
Penela
Penela
-
Joaquim Simão
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
Hídrico
José António Freixo
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
José Joaquim Filipe
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
Manuel de Jesus Ribeiro
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
Maria de Jesus Tomaz
Póvoa
Ponte da Veiga/Ribeira
-
Abílio Mendes
Souto
Rio Torto
-
“Viúva de Manuel Mendes”
Souto
Rio Torto
-
Francisco António Freixo
Souto
Rio Bom
-
João Manuel Grelo Marques
Souto
Rio Bom
-
Manuel Joaquim Gomes
Souto
Rio Bom
-

Moleiro, a jusante de Arcas.

[1] Moleiro, a jusante de Ranhados onde foi constrida a barragem actual.

 
[1]Os moinhos das duas margens do Rio Bom foram em maior número, no entanto, esta foi a relação elaborada pelos serviços da Câmara Municipal de Penedono e enviada para o Governo Civil de Viseu, em 1938. Todos os moinhos do Rio Bom, Ribeira da Póvoa/Ponte da Veiga e Rio Torto eram movidos a água, a partir de açudes e diques construídos nos respectivos leitos. Cada moleiro, particularmente no Rio Bom, possuía mais do que um engenho. Utilizavam geralmente uma mó para moer o trigo, outra para o centeio. Em certos casos, como, por exemplo, Francisco António Freixo/ Natividade Grelo, tinham ainda uma mó para o grão (grão de bico e garrobas) e outra para o milho, estes detinham três moinhos (um apetrechado com duas mós) em cadeia cuja levada percorria os engenhos de cima a baixo, desviada a água por um açude a montante e a meio curso por um dique, juntando-se no terceiro moinho e retomando logo o leito ao acabar de mover o engenho do quarto moinho (o primeiro e cimeiro foi de outros moleiros), rente ao rio. Embora esta relação de 1938 refira os moinhos aqui expostos, havia no conjunto das habitações de anteriores engenhos moradores que se dedicavam à agricultura, à pastorícia e às jornas, nomeadamente na quinta da Retorta, destaque-se os do moinho do Bento, do Chega à Riba e os do Freixo, estes nas duas margens, perto dos Mozinhos. No total dos núcleos que se dedicaram à actividade da moagem, no Rio Bom, ficaram conhecidos os nomes dos últimos moleiros/moradores: Manuel Joaquim Gomes/Dolorosa (margem direita, freguesia do Souto, próximo da quinta de Arcas); Lúcia (margem direita); Caldeirão (margem direita); Natividade/ Francisco António Freixo (margem esquerda), freguesia da Póvoa, lugar de Bebese), este faleceu em 1956, mas a viúva manteve-se ainda na década de 1960, falecendo em 1997; Mouco (margem direita); Grelos (margem direita) [João Manuel Grelo/ Maria do Carmo Marques], pais de natividade e de Cândida, mulher de Manuel de Jesus Grilo, o bento; Bento (margem esquerda); Chega à Riba (margem esquerda); Freixos (ambas as margens) [Joaquim Freixo/Mafalda]. No Rio Torto existiram vários engenhos, a jusante dos acima citados, quase todos destruídos com cheias da década de 1960. Na Ribeira da Póvoa, até mais tarde ficaram na memória colectiva mais tardia os moinhos do Guerra, do Mocho e do Nascimento (este o último a deixar de laborar e familiar da família do Rio Bom, a Lúcia).

quarta-feira, 15 de junho de 2016

São Francisco - Mozinhos


[1] Não obstante o vasto espólio a que temos vindo a fazer referência, nomeadamente à igreja de São Pedro do Souto na qual foram efectuados os baptimos, casamentos e óbitos aqui transcritos, importa também aflorar algo que é memória e factos documentais relativamente a algumas capelas.

Se a fonte arquivística nos traz algumas indicações relativas à capela de São Sebastião, da Lapa e do Espirito Santo, já no que toca a Nossa Senhora da Piedade, Santa Bárbara e a São Francisco, praticamente nada existe de substancial.

Assim, tentaremos aqui deixar tudo que encontrámos de fontes coevas e memórias colectivas, transmitidas de geração em geração.

No entanto, para melhor se entender comecemos pois pelo necessário enquadramento histórico. De facto, Souto de Penedono foi propriedade de Leomil como então era descrito, Souto de Leomil para ser distinguido dos outros soutos, que abundavam no território.

A vila e couto de Leomil cuja jurisdição, D. João III confirmou a D. Guiomar, passou, depois, para o senhorio dos marqueses de Marialva. Depois da morte de D. Guiomar Coutinho, sem sucessão, e com a consequente extinção da casa de Marialva, em 9 de Dezembro de 1534, o padroado das igrejas transitou para a posse da coroa. Foi, desse modo, em 1536, transferido para a Universidade de Coimbra.

A coroa cedeu os direitos de padroado, nomeadamente da igreja de Penela da Beira, Sendim, Paredes, Freixo de Numão, Antas e Penedono.

Em 1841 faziam parte da diocese de Lamego 240 paróquias, entre elas, 12 de São João da Pesqueira, 10 da Meda e 8 de Penedono. O padroado de Souto de Penedono manteve-se na casa de Marialva até à morte do último conde, passando então para o infante D. Luís, por direito de herança do seu irmão.

Ainda regressado a Leomil, salientemos, entre os notáveis, personagens no campo da cultura, como o jesuíta António do Soveral, nascido em 1563, leccionou letras humanas e retórica em Braga, em Coimbra e em Évora; Freire Dionísio dos Anjos, filho de Luís Tavares e de Helena Ferreira, professou o instituto dos eremitas de Santo Agostinho, leccionou ciência escolástica, em 1606 colaborou na corte, em Lisboa.

No início do século XVIII a capela do Desterro, em Penedono, tinha como administradores o capitão Manuel Filipe e João Rodrigues de Matos, de Leomil, constituindo, entre os seus encargos, o de dar pousada aos peregrinos.

Na capela da Senhora do Carmo, Penedono, em Novembro de 1729, celebrou-se o casamento de Miguel Carlos de Vasconcelos de Almacave (Lamego) com D. Antónia Teresa Pinto Cabral, filha de José Cardoso Amaral, do Souto e residente em Penedono.

Teodósio da Fonseca Coutinho, de Marialva, casou, em Penedono, com Maria Henriques Aguiar que foram depois pais de Feliciana Maria Coutinho que casou com José de Aguiar Donas Boto, do Vilarouco, em 1729.

Em 1750 a paróquia de São Pedro de Penedono contava 50 fogos, 90 “pessoas de comunhão”, 28 de menor idade; Alcarva 50 vizinhos; prova 106; Ourozinho 70; Póvoa 100; Antas 120; Beselga 130; Castainço 100; Granja 70; São Salvador 67 fogos, 185 “de sacramento” e 23 menores; Ferronha 50 fogos, 120 adultos e 4 menores; Ado Bispo 15 fogos, 30 adultos, 12 menores. O abade de São Salvador provia Granja e Castainço; Beselga era do seminário de Lamego.

As encomendas das paróquias eram feitas a mestres de fora, residentes, temporariamente, no local de execução, a título de exemplo, citemos, em 1720, em Penedono, os pedreiros: Domingos Afonso, oficial, natural de Senfins, Valença do Minho; Domingos Cunha, natural de Formariz, Paredes de Coura. Carpinteiros: Sebastião Francisco, de Guimarães, trabalhava em Penedono, desde 24 de Setembro, de 1692. Ainda no decorrer do século XVII, há referências de entalhadores residentes em Arcas.

Ora, partindo do princípio de que as capelas das Mercês, actual Nossa Senhora da Piedade, da Trancosã, e a capela de Santa Bárbara, dos Mozinhos, datam, no mínimo do século XVII, será lícito deduzir que terão sido os mestres pedreiros, carpinteiros e entalhadores responsáveis pelas obras, nomeadamente, a da capela da Trancosã, magnifica talha dourada. Já no que se refer aos óleos pintados em tábuas de carvalho, porventura poderão ter sido as famosas oficinas de Ferreirim cuja proveniência datam dos tempos de Vasco Fernandes (Grão Vasco) cujo maneirismo marcou decisivamente a região, como, sem dúvida, Freixo de Espada à Cinta, conhecida como a vila mais manuelina de Portugal. Uma coisa é certa, a capela de Nossa Senhora da Pedade apresenta um programa iconográfico singular na região, muito em similitude com Lamego e quiçá a região do Oeste minhoto. Já sabemos que a capela foi propriedade do morgado da Torre de Moncorvo, Francisco António, o que nos garantirá a razão de tamanho investimento financeiro para a época e, por outro lado, a existência, na Trancosã, de rendeiros originários de Jales (entre Minho e Trás-os-Montes) e de Cambres (Lamego) provenientes de terras do antigo couto de Leomil. Em 1814 faleceu Maria Brites, mulher do respectivo ermitão, cargo que Manuel Aguiar desempenhava na capela de Nossa Senhora da Piedade, em 1746, entretanto, a capela ainda foi pertença de João Osório de Vieira. Em arquivo não descortinámos documentações que nos auxilie acerca de intervenções nas respectivas capelas, apenas sabemos que já existiam em 1700, por descrição de pároco da diocese de Lamego, da decrição de 1758, em memórias paroquiais e uma alusão a gasto de 5000 reis no registo de despesas da Junta da Paróquia do Souto, por iniciativa do então presidente, Luís Augusto Sobral, da Risca (finais do século XIX). Em relação à capela de Santa Bárbara, no Mozinhos, para além das atrás citadas referências de 1700 e das respectivas memórias paroquiais, há, ainda a memória, não documentada, da eventual intervenção do casal Joaquim António Aguiar (Freixo) e Teresa de Jesus Costa, cuja inscrinção se apresentava no tecto do forro de madeira policromado.

No entanto, tanto uma como outra, foram alvo de profunda transformação no final da década de 1990, que lhe arrancou traços de séculos de história, na sua estrutura arquitectánica e iconográfica. A intervenção foi de tal modo que não podemos estabelecer um plano comparativo, dado que não foram feitos quaisquer registos antes das obras de remodelação.

De forma sucinta, podemos adiantar, de memória, que a capela de Nossa Senhora da Piedade apresentava um chão lajeado e paredes de xisto e passou a ostentar chão de mosaico e paredes de granito (imagine-se num lugar de xisto), a estatuária julgo ser, actualmente, réplica de originais (sabe-se lá onde terão ido parar), os ex-votos parece que foram guardados e alguns dos magníficos óleos dos caixões e de quadros parietais também julgo serem réplicas. As portas e demais madeiras deram lugar ao alumínio, resta a belíssima talha dourada e alguns quadros originais.

Em relação à capela de Santa Bárbara, da tal intervenção de Joaquim António Aguiar não ficou praticamente nada: o tecto foi alteado, a madeira pintada do forro e da parede do altar desapareceram, a ara do altar foi arrancada e substituída por cimento, o soalho deu lugar a mosaico e o mobiliário apodreceu com a voracidade do tempo, quando a preservação não é aplicada, e, como não poderia deixar de ser, a madeira vestuta da porta desapareceu, agora uma insignificante e triste portinha de alumínio dá para as vistas da Póvoa e de Valongo e, mais perto, para a antiga capelinha de São Francisco que já nada deixa mirar. Entre a capela de Santa Bárbara, no cume do monte, nos Mozinhos, e o cerro do monte onde se situou a capelinha de São Francisco, de fronte, na meia encosta, da margem direita da ribeira (rio Bom), intrigantes marcas cavadas nas fragas esperam por alguém capaz de descodificar. São covinhas e traços perpetrados por mão humana cuja datação e leitura não se apresenta ao nosso alcance.

Como nota final, importa esclarecer que pelo facto de nos registos paroquiais as ditas capelas não surgirem como lugar de cerimónia, nomeadamente de baptismos e de casamentos, não significa que aí não tenham tido lugar, pois os sucessivos párocos registavam no livro como efectuados na igreja de São Pedro do Souto, mas para omitir, oficialmente, já que para que tal cerimónia se efectuasse seria necessária uma autorização do respectivo bispo. Ora isso acarretava delongas, burocracias e despesas inconvenientes. Para evitar isso os respectivos padres faziam, à revelia, cerimónias nas capelas, registando-as como decorridas na matriz. Basta lembrarmo-nos que no século XIX o padre Martins era originário da Trancosã e que a família Freixo (Aguiar) deixou por demais vestígios na capela de Santa Bárbara, para memória ficou um simples documento de Francisco Manuel Aguiar de pagamento de impostos, guardado até aos nossos dias na capela. Se nos focarmos na descrição da cerimónia de baptismo de Manuel Jesus Aguiar (meados do século XIX) seremos levados a pensar que só teria sentido no seio da família e naturalmente na capela que administravam. Da capelinha de São Francisco, infelizmente, nada resta de estrutura local: só que se lembra ainda dos muretos e das histórias e lendas terá uma ideia. Todavia, do tempo dos anos de 1920, chegaram-nos firmações de que aí residiu um eremita, zelador da capela e há a certeza de que a estatueta de São Francisco foi levada para Bebeses e permanece, degolada numa casa, no bairro da soalheira; inicialmente esteve na fonte comunitária e o meu estimado amigo Fernando, por acaso, com uma bolada, de brincadeira jevenil, degolou-a. Da primitivíssima capela de Covas (local da fundação da povoação dos Pereiros) restaram pias baptismais, actualmente junto à porta principal da sua matriz, da capelinha de São Francisco resta a estueta, ao deus dará…
Mozinhos
Capela de Santa Bárbara
Ruinas da Capela de São Francisco

Mozinhos
Marcas nas fragas perto de São Francisco





Capela São Francisco
 

Mozinhos - Rio Bom





Souto do Penedono, Pinhel - Memórias paroquiais, vol. 35, nº 232, p. 1653 a 1658

Transcrição

(fl. 1653) <D’el rey Souto do Penedono comarca de Pinhel> n. 232

Descripçam desta villa do Soutto de Penedono mandada fazer pelo Excelentissimo e Reverendissimo senhor bispo por recomendaçam de sua Magestade Fedelecima que Deus guarde.

1 Esta villa do Souto de Penedono, (cognome que se lhe impôs por estar huão piquena legoa da Penedono, para differença de outros Souttos que há e nam porque de Penedono tivesse ou tenha alguma dependecia mas antes consta do foral desta villa, que foi exarado no tempo do senhor rey D. Manoel de glorioza memoria, ser do coutto de Leomil, terra que hoje he do Excelentissimo Marques de Marialva)[1], fica na provincia da Beyra, bispado de Lamego, comarca de Pinhel, tem seu termo mas nam que tenha outros lugares ou aldeyas e tem huma só freguezia.

2 He de el rey nosso senhor sem que haja fama, fosse de domnatario salvo no tempo que estava incluza no coutto de Leomil, que antam delle se verefica ser do senhorio delle.

3 Tem cento e quarenta e sinco vezinhos e o numero das pessoas entre mayores e menores coatrocentas e vinte.

4 Está situada na falda de huma piquena serra que a faz abrigada do vento tempestuozo se bem exposta ao norte desta se descobre a praça de Almeyda, Castello Rodrigo, Escalham, em distancia de des legoas e na de duas se veem Freixo de Numam e Sabadelhe e na de huma legoa apparece Numam com seu castello e muros que dizem foi a antiga Nomamcia que tanto rezistio aos romanos, ainda que a piquena povoaçam que hoje há esta fora delles tambem está à vista o lugar dos Pereyros que hé do termo de S. Joam da Pesqueira, terra do conde do mesmo nome.

5 Nam tem esta villa aldeyas ou annexas mas só sim algumas quintans ou piquenos lugares que se incluem na mesma (fl. 1654) freguezia dos coais hum se chama Arcos e terá vinte e sinco vezinhos, o segundo se nomea Mozinhos e contem doze moradores, o terceiro se dis … e tem sete, o quarto e ultimo se appellida … e tem sinco.

6 A parochia ou igreja está dentro da mesma villa a que se aggregam as quintans e logareijos mencionados.

7 O seu orago hé o gloriozo appostolo S. Pedro tem a igreja tres altares o mayor em que está o tabernaculo e Sam Pedro e o lado do Evangelho e Santo Antonio da Epistola nos dois colaterais no do lado direito está huma distinta(?) imagem de Nossa Senhora do Rozario no do esquerdo huma imagem Christo Senhor nosso crucificado e esculpidos de huma e outra parte Nossa Senhora ao pé da crux e o dissipolo amado a igreja tem hum só nave há nella huma Irmandade das Almas que se compoem das pessoas da mesma freguesia e de romeires(?) das vezinhas.

8 O parocho hé abbade hé abbadia do padroado real de Sua Magestade que Deos goarde terá de renda pera o abbade trezentos(?) mil reis e pera a Santa Igreja patriarcal de Lisboa duzentos que entra na dita renda.

9 Nam teve, tem nem nunca teve beneficiados nem benefícios simpleces.

10 Da mesma sorte nam tem conventos de religiozos nem religiozas nem consta os houvesse.

11 Tambem nam há hospital nem Caza da Mizericordia.

12 Dentro da mesma há duas cappellas huão de Nossa Senhora das Merces que hé de hum Francisco Antonio da Torre do Moncorvo, provincia de Tras dos Montes que aqui tem hum seo morgado 13 outra popular da invocaçam de Nossa Senhora aqui (fl. 1855) da Crux aonde tambem está huma imagem do martir mayor S. Sebastiam e honde da freguezia para a quinttam de Arcos que dista meya legoa houve huma cappella com meyo caminho de Nossa Senhora da Lapinha porque huma grande lapa lhe servia de forro no leito na mayor parte della porem já antes do terremotto de mil e setecentos e sincoenta e sinco mostrava algum aballo e menos firmeza com o terremotto muito mais e dahy a pouco tempo cahio a dicta lapa e se arruinou a cappella agora se quer edificar de novo junto da arruinada e poderá conservar o nome pela antiga posse mas nam na realidade; na quinttam de Arcos há huma cappella dedicada ao divino Spirito Sancto aonde os vezinhos tem cappellam a quem pagam que dis missa nos dias de … pera os que nam podem ir a parochial, nos Mozinhos há outra cappella de Santa Barbora, na Travazam(?) que hé outra quinttam outra de Nossa Senhora da Piedade que haverá quarenta anos foi muito 14 frequentada de romeyros pelos muitos milagres porem hoje apenas no veram ahy apparece  algum, estas cappellas estam dentro dos seos lugares e sam dos seos moradores porem o direyto de apprezentar hermittoens ou cappellaens pera as missas pertence ao abbade da dicta freguezia.

15 Os fructos da terra de todos há mediania só o azeite hé menos, o mayor … hé de castanhas, donde sam duvida de deriva o nome da freguezia.

16 Tem dois juizes ordinarios que tambem servem dos orphans dois veriadores e hum procurador do concelho e escrivam da camera que todos se conservam(?) sem subjucam as justiças de outra villa só ser da correiçam do corregedor de Pinhel e provedoria da cidade de Lamego.

17 Nam he coutto e por si he concelho e villa de Sua Magestade (fl. 1856) que Deos goarde e pagam cada hum de seos moradores a parade(?) de hum alqueire de trigo cada anno e não só os moradores mas coalquer pessoa de fora que que aqui tenha bens de rais, por mínimos que sejam.

18 O tempo que tudo risca de memoria não a deixou de subjeitos que daqui se singularizassem notoriamente nas vertudes, armas ou letras.

19 Nesta villa nem dentro do seu termo nam há no discursso de todo o anno feira ou mercado algum.

20 Da mesma sorte nam há nella correio e se serve do da villa de Freixo de Numam que dista daqui duas legoas.

21 Dista esta villa da cidade de Lamego que hé a metropole e cabeça do bispado outo legoas e da cidade de Lisboa capital do reyno sesenta.

22 Tem esta villa previlegio para se elegerem no principio do anno por eleiçam tabaliaens e escrivam dos orphans dando lhe ao depois de eleito o corregedor da comarca provimento aos tabaliaens e o provedor ao dos orphans o que nam há nas villas vezinhas.

23 Nam há fonte nem lagoa celebre nem aguas de especial virtude.

24 Nam há porto de mar mas antes dista esta donde hé mais perto vinte legoas que tantas há daqui a cidade do Porto.

25 A villa não he murada nem consta nem há vestigios o fosse que em nenhum tempo e por isso nam hé nem foi nunca praça de armas nem ha nella nem na vizinhança castello ou torre.

26 Nam padeceo ruina no terremoto do anno de mil e setecentos e sincoenta e sinco alem da cappella de Nossa Senhora da Lapinha asima referida que tracta de repararsse.

(fl. 1857) 1 Perto desta freguezia corre para a banda do nascente o rio Torto nome que sem duvida tem porque correndo por terras asperas faz muitos giros.

2 Nasce em huma fonte que se chama a fonte do Milho daqui três legoas ou duas e meya entre as Anttas e a villa de Trancozo não he caudelozo mas antes os mais dos annos estereis e faltos de agua seca no veram ainda que no inverno corra pecipitado.

3 Nam entram nella rios de nome salvo alguns regatos sem nome ainda que muitos por serem as terras e pais monsuozas(?) e que o planas.

4 Nam he navegavel e como seca os mas dos veroens nam cria senam alguns piquenos pisciculos que nascendo com aguas novas acabam no estio.

5 As suas margnes se cultivam se bem em poucas partes se rega com as suas aguas tanto porque nellas <como> não corre como poque nas suas vizinhanças nam há boas terras.

6 O seu cursso será de sete <ou> outo legoas e correndo por entre os povos de Antas, Ranhados, Peso do Canto, Cedovim, Soutto, Povoa, Pereyros, Vallongo, Trevaens(?), Sam Joam da Pesqueira, Castanheiro, Ervedoza, entra no rio Douro entre a villa de Valença e Cazais, aonde perde o nome o pouco cabedal de suas aguas.

7 Tem muitos moinhos de moer pam com suas acudes que ordinariamente nam moem todo o anno por falta de agoa.

(fl. 1858) 8 Tem outo ou nove pontes todas de pau que tambem há rios sem ventura mas a couza vem a ser porque as terras por onde passa sam quentes e de pedra piçarra ou louzinha e a marmore fica distante para a sua condução.

9 Por sima da quintam de Arcos que como esta dicto pertence a esta freguezia e por baxo da villa de Penedono no meyo nasce hum piqueno rio a quem se dá o nome de Riobom que terá quasi huua legoa de cursso e fenece no dicto rio Torto, tem moinhos de … que moem quasi todo o anno ainda que no veram mais lentamente e por acordans das justiças estam adjudicados tres dias da somana para regar os seos redores e os mais para moerem os moinhos.

Nam há serra que se faca ponderavel nem digna de memoria, nem outras notabilidades dignas de se expressarem que as terras humildes e piquenas em tudo o sam.

O abbade Antonio da Costa Payva [assinatura autógrafa]



[1] Nota: pontuação existente no documento original.