Viagem por Terras de Penafiel
Terça-feira, 7 de Setembro de 2010
Não
sei como o topónimo Mozinho se radicou para sempre no monte mais importante da
Terra de Penafiel. Na meia-idade, é sabido, abundavam no país os sacristães, a
que, de modo geral, se dava o nome de mozinhos, se bem que não era denominação
exclusiva. Os mozinhos eram moços, e outros sim adultos, que serviam nos
templos, mediante remuneração, algumas vezes destinados à vida eclesiástica.
Viterbo fala-nos até de uma Confraria
de Moozinhos existente em Coimbra no ano de 1281. Há
muito que desapareceram os nossos mozinhos. O mais novo do meu conhecimento
vivia no final do séc. XVI. Vi-o num assento de baptismo, letra do tempo, da
freg.a de S. Romão do Coronado, era de 2-12-1590. Espanha
ainda tem hoje os monaguillos ou monacillos, irmãos dos nossos mozinhos,
quanto ao nome e sua origem. No séc. XVIII, têm-me aparecido uns ermitães a
morar junto a capelas confiadas à sua devota guarda. Vou referir-me apenas a
dois, ambos chamados Domingos, que viveram nas cercanias da «Ermida da Senhora
da Lapa ou Santo António» (sic), da freg.a de S. Martinho de Lagares. O primeiro, Domingos Alves,
já se encontrava «Velho de ssetenta annos de hidade» quando fez o seu
testamento, em 20-6-1710, que possuo em cópia, por inteiro. O meu regalo era
transcrevê-lo todo aqui, tão formoso é aquele testamento! (E aonde o espaço
para tanto?). O outro ermitão, Domingos do Sacramento - nome tão sugestivo! -
vem nomeado numa escritura de doação, feita em 11-9-1748, de que também tenho
cópia fiel. Os outorgantes dessa escritura, senhores que eram da «Caza de
Ordins», disseram que doavam à referida «Capella e a seos eremitoes» um cerrado
contíguo à mesma, porque estavam muito agradecidos ao Domingos do Sacramento,
pelo seu grande zelo em manter «a dita Capella bem ornada e venerada». Tais
ermitãos, a bem dizer eram sacristães daquele tempo, herdeiros do ofício dos
mozinhos de antanho. (Ainda há poucos anos ouvi chamar «ermitão» ao sacristão
do Bom Jesus, em Braga). Depois disto, alguém achará impossível imaginar um
mozinho, em serviço de sacristão, junto da ermida de S. Antão (fora de dúvida,
muito anterior a 1622), ou então muito perto do Mosteiro das Freiras? Por mim,
teimo em vê-lo em tal sítio, a uma distância plurissecular, a projectar-se, no
futuro, mercê de uma simpatia tão forte criada na alma do Povo que fez que ele
identificasse o monte com a veneranda pessoa do Mozinho.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel,
1969-05-16, p.04
Palavras
chave: ermida
de sto antão, ermida
de sto antónio, lagares, mosteiro
das freiras, mozinho, ordins, penafiel, sra da lapa
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